A startup brasileira Plataforma Paciente 360, está mudando a forma como estudantes de medicina são preparados para a prática clínica. Criada em 2017 pelos cardiologistas Manoel Canesin, Rodrigo Gonçalves e Fabricio Furtado, a edtech surgiu da inquietação dos fundadores com o ensino tradicional: aulas expositivas, bonecos e poucos recursos interativos, ainda distantes da realidade da medicina moderna.
“A maioria dos alunos de Medicina se forma sem ter tido contato prático com casos complexos. Percebemos que havia uma lacuna entre teoria e prática, e decidimos criar uma plataforma que simulasse a jornada clínica completa, de forma digital e humanizada”, afirma Manoel Canesin, CEO sócio fundador e CEO da Edtech.
A ideia começou de forma quase artesanal. Com uma câmera de celular e slides improvisados, os fundadores gravaram uma atriz interpretando uma paciente com insuficiência cardíaca. O conteúdo, exibido em um evento médico, foi um sucesso imediato. Ali nasceu o embrião do que hoje se tornou a maior biblioteca digital de casos clínicos do mundo, com mais de 500 casos em mais de 200 especialidades da saúde, incluindo Medicina, Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição.
Simulação realista com atores e feedback clínico
Diferente das soluções baseadas em avatares, a Plataforma 360 usa vídeos com atores humanos, auscultas reais e exames clínicos anonimizados. O objetivo é simular a prática com o máximo de realismo, respeitando as nuances emocionais do atendimento médico.
“Nosso paciente sorri, sente dor, respira com dificuldade. Isso é impossível com um avatar. Na vida real, não tratamos robôs. Criamos uma simulação que ensina o aluno a diagnosticar e também a se comunicar com empatia”, explica Canesin.
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Os estudantes percorrem, em cerca de 30 minutos, todas as etapas do atendimento: anamnese, exame físico, exames complementares, diagnósticos e condutas clínicas. A plataforma oferece ainda feedback automatizado e dashboards detalhados, permitindo que o desempenho dos alunos seja acompanhado em tempo real por professores e coordenadores.
Duas frentes de atuação: universidades e indústria farmacêutica
A edtech opera em dois modelos de negócios. Um deles é voltado para instituições de ensino, que assinam a plataforma por aluno, permitindo acesso à biblioteca de casos. O outro atende à indústria farmacêutica, com a criação de experiências clínicas personalizadas para o lançamento de novos medicamentos e capacitação médica.
“A indústria farmacêutica precisa engajar os médicos de forma mais interativa e científica. Com o Paciente 360, criamos casos reais para treinamento e utilizamos essas simulações em congressos, eventos e até em ações digitais com representantes”, diz o CEO.
A paltaforma já lançou soluções como o Meet360, que insere enquetes em tempo real durante eventos científicos, e as IAs que oferecem onteúdo médico validado sob demanda.
Presença global e novos investimentos
A Plataforma 360 já é utilizada por mais de 160 universidades em 17 países, entre América Latina e Europa, e possui cerca de 80 mil usuários ativos. Em 2022, a startup recebeu uma rodada de investimentos de R$ 5 milhões e agora está em processo de captação Série A, buscando entre R$ 10 e R$ 20 milhões para financiar sua expansão global.
O primeiro passo foi a criação de uma unidade nos Estados Unidos, onde a edtech pretende estabelecer uma base de atuação e conquistar o mercado norte-americano com conteúdo já traduzido para inglês, francês e russo. “Estamos construindo uma plataforma global com DNA brasileiro. A necessidade de treinar melhor os profissionais de saúde é universal”, comenta Canesin.
Embora a startup já utilize IA para correções preliminares e análise de dados, Canesin reforça que a tecnologia é vista como ferramenta de apoio, e não como substituto da prática clínica supervisionada. “A inteligência artificial é valiosa, mas não pode ser tratada como oráculo. Na Medicina, o julgamento clínico e a sensibilidade humana ainda são insubstituíveis”, alerta.
Impacto social e acessibilidade na saúde
Além da inovação tecnológica, a Plataforma 360 também tem um forte viés social. Por meio da simulação digital, a edtech democratiza o acesso a experiências clínicas, antes restritas a hospitais universitários de grande porte.
“No Brasil, 80% das faculdades de medicina não têm hospitais próprios. Os alunos, muitas vezes, saem da graduação sem ver um caso de lúpus, insuficiência cardíaca avançada ou pneumonia grave. Nós entregamos essa vivência de forma segura, acessível e padronizada”, completa o CEO.
Planos para o futuro
A Plataforma 360 pretende expandir ainda mais sua biblioteca com doenças raras, novos idiomas, funcionalidades como holografia médica interativa e exames OSCE simulados com baixo custo. A meta é se tornar referência global em simulação clínica digital, unindo educação, tecnologia e humanização.
“O que nos move é a convicção de que estamos transformando a formação médica em larga escala, sem perder o cuidado com o humano. Porque o centro de tudo, seja na plataforma ou na vida real, continua sendo o paciente”, conclui Manoel Canesin.
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