No mundo que ressurge da pandemia, sustentabilidade e propósito são palavras de ordem

E na passarela do Web Summit 2021, sustentabilidade e propósito! E se nos anos anteriores os holofotes tendiam para realidade virtual, depois Inteligência Artificial e Machine Learning, chegou agora a vez do Metaverso.

Não digo que os outros temas não estão aqui. Eles não são “new kids on the block”, estão mais maduros e “embeded” nas soluções tecnológicas lançadas, mas como uma ferramenta, um meio. Todos usam big data para alimentar machine learning que tem inteligência artificial ou aumentada. Sem segredos. A busca, o “ask” generalizado, contudo, está girando em torno do delivery. Pivoteou durante a pandemia.

A startup mais comentada e premiada desenvolveu um app que administra perdas de comida. Ou melhor, evita que haja perda, administrando os estoques com base nos prazos de validade. Dirigida a escolas, restaurantes e empresas, ela faz com que excedentes e produtos que estão perto do limite de data indicada para consumo chegue a esses estabelecimentos com um custo mais baixo. É a econômica girando de forma efetiva.

Outro detalhe que me devolve a esperança na humanidade é a mudança no tom dos pitches. Nos três minutos de elevator pitch – aquele tempo que um empreendedor tem para vender uma ideia para um grupo, comparável literalmente ao de uma subida de elevador, em que se tem a total atenção do interlocutor – deu para acompanhar discursos permeados por finalidades bem estabelecidas. No palco, entre as startups presentes, somente uma recebeu perguntas sobre números financeiros. As outras até estavam em rodada de investimento, mas o que realmente interessava era saber sobre “gente”, equipe, parceiros! Frases como “e se seu sonho for esse, se junte a nós” ou “essa é nossa família” ou “se você é engenheiro” dominaram essa troca.

E a palestra quase que institucional da Dreamworks foi praticamente inteira sobre como manter felizes os talentos internos. Daí lembro da revolução industrial e das greves, incluindo a que aconteceu em Lisboa nesse início de semana, atrasando tudo no primeiro dia de Summit, e sorrio com um ufa…

O segundo dia de programação intensa também pode ser considerado como o dia do Metaverso. Claro que o Mark Zuckerberg lançou sabidamente seus planos nessa linha em busca de buzz. Ele vende cliques – bons e maus. Gente pró e haters. E conseguiu. Todos em todos os palcos já têm opiniões e as exterioraram. Check, objetivo alcançado: falem bem ou mal, mas falem de mim

Retomada do mercado

Dois assuntos que tenho acompanhado são a volta das viagens e entretenimento, pois é o retorno da minha indústria, a mais sofrida na pandemia. Aqui ainda estão no “acho”, pois as viagens estão voltando agora e o novo consumidor ainda não esta totalmente claro.

Marketing de subscrição de serviços nichados é uma aposta. A volta para o vintage de locais já conhecidos e seguros é outra. Ferramentas que dêem segurança ao consumidor em todas as dimensões está sendo apresentadas pelas startups. Aqui o oceano ainda é azul.

E o outro assunto quente é saúde por motivos óbvios. E duas soluções me chamaram atenção. A primeira é o uso de psicodélicos apoiados por associações sérias presentes aqui e institutos de pesquisa super tradicionalistas. E outra é a cura para a depressão, o mal do século. Baseado no estudo da utilização de peixe elétrico por gregos e romanos para tratamento de saúde mental, uma empresa desenvolveu uma touca que transmite corrente elétrica para os neurônios, ativando áreas que em exames mostram falta de atividade. Isso tudo suportado pelo 3D, que replica o cérebro em tamanho real para que o médico programe as quantidades e o paciente se trate em casa. Mais uma vez, algo mais humano.

Bem legal a quote do mestre de cerimônias do track de saúde. É complicado ser disruptivo nesta área. Os engenheiros são treinados no “fail fast” e a comunidade médica tem mindset de super cuidados e testes sobre testes. É necessária muita humildade e permitir que as vozes sejam ouvidas.

E por último, para os publicitários, o assunto social media teve um painel de influencers falando o óbvio, mas que vale como lembrança ou checklist. Para ter um milhão de followers é necessário ter conteúdos fortemente embasados, o packaging precisa ser interessante para o target e consistência é a palavra-chave. Um vídeo pode ser colocado 1000 vezes e viralizar na 1001 vezes – e por causa de um único “hater”. E está valendo, pois o importante para eles não é o amor que o público deles têm por algo e sim o quanto a comunidade ao redor os coloca no centro das discussões. E eis que voltamos mais uma vez ao Meta do Marc 😉

Natasha de Caiado Castro, fundadora e CEO da Wish International, designer de experiências, especialista em inteligência de mercado, professora na ESPM e Investor. É também Board Member da United Nations e do Woman Silicon Valley Chapter.

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