Após consulta pública encerrada no início deste ano, o Ministério da Saúde atualizou o PCDT (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas) para a hepatite B e, a partir de agora, pessoas infectadas com uma carga viral menor do HBV — vírus da doença – e com menores taxas de transaminase também poderão ter acesso ao tratamento na rede pública.
Atualizados no PCDT, os novos critérios de indicação ao tratamento de hepatite B estipulou o valor da carga viral de HBV-DNA de 2.000 UI/ml, tanto para pacientes HBeAg positivos ou negativos; e como limite na dosagem de alanina aminotransferase (ALT), que avalia a inflamação no fígado, igual ou superior a 52 U/L para homens e superior a 37 U/L para mulheres. Com isso, um número significativamente maior de pessoas deve se tornar elegíveis para este tratamento no Sistema Único de Saúde, que disponibiliza os medicamentos gratuitamente.
O medicamento tenofovir alafenamida (TAF), que já vinha sendo utilizado desde o ano passado por meio de nota técnica, foi incorporado em definitivo nessa atualização do PCDT, para pacientes com cirrose ou alteração renal ou óssea e que já utilizaram lamivudina, o primeiro medicamento oral, que agora foi descontinuado. Com o novo protocolo, mais pacientes ganham tratamento gratuito para uma doença que não tem cura, mas tem tratamento e prevenção por vacina. Pessoas vivendo com HIV e que também contraíram o vírus da hepatite B também poderão ter acesso a esse novo medicamento.
Gastroenterologista e diretor médico associado da Gilead Sciences, Eric Bassetti, avalia as mudanças com bons olhos. “A notícia é muito animadora, pois o tenofovir alafenamida é um medicamento potente e com mais segurança, além de ser a última opção aprovada para o tratamento da hepatite B no Brasil e em diversos países do mundo”. Em relação ao medicamento usado anteriormente, o TAF possui menos efeitos adversos, como perda mineral óssea, que poderia levar a osteoporose, e disfunção renal. “Ele oferece maior estabilidade plasmática, além de ter a vantagem de, após ser absorvido pelo intestino, quase não há necessidade de eliminação pelos rins, ou seja, sem impactá-los”, detalha Bassetti.
Sobre a Hepatite B
Considerado uma epidemia crônica mundial, o HBV afeta cerca de 257 milhões de pessoas no mundo e em torno de 1,1 milhão no Brasil, sendo que, entre 2000 e 2021, o país teve mais de 264 mil casos confirmados. A hepatite B figura entre os problemas de saúde pública mais preocupantes em todo o mundo e virou um dos alvos da Organização Mundial de Saúde (OMS), que estabeleceu como meta a sua eliminação até 2030.
A doença pode não apresentar sintomas, mas pode causar dores abdominais, fadiga extrema, vômito, icterícia, náuseas e urina escura, além de, em casos extremos, ocasionar grave dano hepático – como cirrose e câncer de fígado – e levar à morte. Por isso, a detecção do HBV é essencial e pode ser feita através de exames laboratoriais ou teste rápido, com apenas uma gota de sangue e resultado em cerca de 20 minutos. “Como a transmissão pode se dar pelo sangue, sexual ou materno-fetal, grande parte da população mundial, principalmente na Ásia, já foi exposto ao vírus. O ideal é que todas as pessoas sejam testadas ao menos uma vez na vida e, se indicado, o tratamento for realizado de forma correta, como outras doenças crônicas como hipertensão ou diabetes”, explica o Bassetti.
O gastroenterologista também enfatiza que a vacina está disponível no SUS para toda a população quem ainda não foi contaminada, oferecendo proteção a longo prazo para crianças e adultos.