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A interoperabilidade de dados na saúde tem sido amplamente discutida no Brasil, mas sua adoção ainda enfrenta desafios estruturais e regulatórios. Embora o conceito esteja em pauta em fóruns e debates, a implementação prática ainda engatinha, especialmente no setor privado.
De acordo com Teresa Sacchetta, diretora de Saúde na InterSystems, a Secretaria de Informações e Saúde Digital (SEIDIGI), vinculada ao Ministério da Saúde, tem avançado na agenda de interoperabilidade no setor público, mas a adesão no setor privado ainda é baixa. “As pessoas entendem os benefícios de compartilhar dados entre instituições, mas há muitos mitos, dúvidas e preocupações éticas que precisam ser esclarecidas”, explica.
Segurança e governança dos dados ainda são entraves
Uma das principais barreiras para a adoção da interoperabilidade é a segurança da informação. Com a vigência da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), há receios sobre quais informações podem ser compartilhadas e de que forma esses dados serão utilizados. “Os dados de saúde são sensíveis, e a troca de informações entre instituições precisa respeitar regras de privacidade e segurança”, reforça Sacchetta.
No setor privado, a Unimed tem sido uma exceção, avançando na criação de um repositório clínico centralizado para facilitar o compartilhamento de informações entre suas unidades. Essa iniciativa busca garantir maior precisão nos tratamentos e otimizar o atendimento ao paciente. “Ainda há muito mais discussão do que ação no Brasil, mas a Unimed tem sido um dos poucos exemplos concretos de avanço”, observa.
Impacto na experiência do paciente
A falta de interoperabilidade impacta diretamente a experiência do paciente. Hoje, exames, históricos médicos e prescrições não são facilmente acessíveis em diferentes instituições, obrigando o paciente a fornecer repetidamente as mesmas informações. “O processo atual gera desperdício de tempo, recursos e pode comprometer a qualidade do atendimento”, alerta Sacchetta.
Com um sistema interoperável, médicos e demais profissionais de saúde teriam acesso instantâneo ao histórico clínico do paciente, permitindo diagnósticos mais precisos e reduzindo erros médicos. “Ter informações consolidadas melhora a assistência, a segurança e a eficiência do atendimento”, afirma a especialista.
Desafios para a regulamentação e adoção no setor privado
Para que a interoperabilidade avance no Brasil, a regulamentação precisa ser mais clara e abrangente. Atualmente, um projeto de lei sobre o tema está em discussão no Congresso, liderado pela deputada Adriana Ventura. A proposta visa definir quais dados podem ser compartilhados, quem terá acesso a essas informações e com qual finalidade.
Enquanto o setor público avança com a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), o setor privado ainda hesita em adotar o modelo. Muitas instituições veem os dados como um diferencial competitivo, temendo perder pacientes caso suas informações sejam compartilhadas com outras redes. Além disso, há a necessidade de investimentos em tecnologia e segurança cibernética, o que pode retardar a adesão por parte de hospitais e operadoras de saúde.
Perspectivas para o futuro
Embora o Brasil ainda esteja atrasado em relação a países como Estados Unidos e Reino Unido, há oportunidades para aprender com os modelos internacionais. Na Austrália e na Europa, por exemplo, a interoperabilidade já é realidade e tem permitido avanços significativos na gestão da saúde.
Para Sacchetta, o ano de 2025 será um período de consolidação e amadurecimento dessas discussões, especialmente com o avanço da regulamentação. “O setor privado ainda tem receios, mas exemplos como o da Unimed podem incentivar outras empresas a aderirem ao modelo. O avanço será gradual, mas inevitável”, conclui.