quarta-feira, julho 16, 2025
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Nossos gêmeos digitais: na Medicina, nosso espelho vivo do que acontecerá

por Dr. Marcon Censoni de Ávila e Lima
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A Medicina está diante de uma de suas maiores revoluções desde a descoberta dos antibióticos.

Não é exagero dizer que estamos entrando em uma nova era onde será possível prever, com precisão quase cirúrgica, como o corpo de um paciente responderá a diferentes tratamentos, antes mesmo de iniciá-los.

Trata-se do conceito dos Digital Twins — os chamados “gêmeos digitais” — modelos virtuais e dinâmicos do organismo humano que prometem redefinir a forma como diagnosticamos, tratamos e acompanhamos cada indivíduo.

Nas entrelinhas, é como se a medicina estivesse ganhando seu próprio espelho digital — não mais limitado ao reflexo estático da imagem, mas capaz de processar dados em tempo real e projetar futuros possíveis.

Um novo tipo de oráculo, baseado não em magia, mas em ciência, algoritmos e inteligência artificial.

Originalmente aplicados na indústria aeroespacial e automotiva, os digital twins chegaram à saúde com uma missão clara: personalizar radicalmente o cuidado médico.

Não: não é a mesma dose para todo mundo

Não: não é a mesma medicação para todo tumor

Um gêmeo digital pode representar um órgão, um sistema ou mesmo o corpo inteiro de um paciente, simulando, com base em dados reais e atualizados, como ele reagiria a medicamentos, cirurgias ou mudanças de estilo de vida.

Não se trata mais de protocolos genéricos.

Trata-se de uma medicina para “um só”.

Da teoria à prática clínica

Já existem aplicações concretas em hospitais de ponta nos Estados Unidos, Europa e Ásia.

Em Chennai, na Índia, cirurgiões cardíacos do IIT Madras utilizam gêmeos digitais para ensaiar cirurgias complexas antes de operar o paciente real.

Na Duke University, a professora Amanda Randles desenvolveu algoritmos que simulam o fluxo sanguíneo em tempo real, criando avatares digitais personalizados que ajudam a prever riscos cardiovasculares com impressionante exatidão.

Ela foi premiada internacionalmente por isso.

Em Bruxelas, o projeto europeu Neurotwin cria réplicas cerebrais digitais para prever a eficácia de terapias contra Alzheimer e epilepsia.

Essas experiências reforçam a visão publicada pela Nature Digital Medicine, que aponta os gêmeos digitais como “uma ponte entre o universo molecular e as decisões clínicas”.

Em outras palavras, uma interface poderosa entre a ciência dos dados e a arte do cuidado.

E isso gera impacto também na velocidade com que obtemos resultados de estudos científicos

E a tão sonhada custo efetividade  ideal , num sistema de saúde cada vez mais exorbitante

As entrelinhas da inovação

Mas nas entrelinhas, é preciso estar atento aos riscos e responsabilidades.

A primeira delas é a privacidade e governança de dados.

Com a LGPD no Brasil e normas internacionais como HIPAA, o uso ético dessas informações sensíveis é inegociável.

A segunda diz respeito ao viés algorítmico: modelos mal calibrados podem reforçar desigualdades, especialmente se treinados com dados populacionais não representativos.

Outro ponto delicado é a autonomia médica.

Há um receio silencioso — por vezes velado, por vezes declarado — de que a tecnologia substitua o julgamento clínico.

Mas a verdade é outra: o gêmeo digital não rouba protagonismo, ele potencializa.

Ele oferece ao médico a possibilidade de testar hipóteses, avaliar riscos de drogas e cirurgias, de individualizar decisões com muito mais segurança e previsibilidade.

Aplicações reais e o que vem por aí

  • Na oncologia, já se simulam respostas personalizadas a imunoterapia antes da aplicação. Além do custo efetividade em cada câncer.
  • Na cirurgia robótica, o planejamento com base no gêmeo digital pode reduzir o tempo de operação e riscos intraoperatórios;
  • Na medicina preventiva, sensores vestíveis alimentam o avatar digital com dados contínuos, antecipando alterações metabólicas, cardiovasculares ou neurológicas;
  • Na pesquisa clínica, cenários são testados em ambiente simulado, poupando tempo , agilizando resultando e salvando mais vidas.

No horizonte, grandes players globais já constroem plataformas interoperáveis para acelerar essa transição: Google Health, Philips, Siemens e consórcios acadêmicos unem forças com governos para viabilizar infraestruturas digitais, computação em nuvem segura e integração com sistemas hospitalares.

O papel humano permanece insubstituível

Nas entrelinhas, o verdadeiro desafio não é técnico — é cultural e filosófico.

A medicina do futuro precisa ser precisa, mas também precisa continuar sendo compassiva.

A inteligência artificial pode prever o risco de uma arritmia. Mas é o médico que acolhe o medo do paciente.

O algoritmo pode indicar a dose ideal.

Mas é o toque, o olhar, a escuta que tornam o cuidado completo.

A famosa frase do físico Freeman Dyson parece ecoar aqui:

“A tecnologia é um presente de Deus. Depois do dom da vida, é talvez o maior dos dons. Mas com cada presente vem uma responsabilidade.”

Entre as linhas do progresso, está a nossa missão.

Os Digital Twins são, sim, a fronteira mais ousada da medicina personalizada.

Mas o que fará a diferença não será apenas o código-fonte, e sim a intenção com que o utilizamos.

A medicina do futuro será digital, mas precisa continuar sendo profundamente humana.

Dr. Marcon Censoni de Ávila e Lima, médico há 26 anos, MBA Executivo em saúde, especialista em transformação digital em saúde – Harvard, membro do corpo clínico do hospital Albert Einstein , Sírio Libanês  e AC Camargo Câncer Center.

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