Os setores de farmácia e cosmético juntos movimentam bilhões de dólares todos os anos no Brasil e no cenário global. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Euromonitor Intenational, somente a indústria cosmética teve uma projeção de faturamento de US$ 670,8 bilhões em 2024, enquanto a farmacêutica movimentou US$ 1,19 trilhão em 2023, com crescimento anual de 13,4% até 2028, podendo ultrapassar a marca de US$ 2,09 trilhões, segundo o relatório recente divulgado pelo The Business Research Company, empresa global de pesquisas do setor.
Porém, um dos desafios contínuos dos setores é a implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor no Brasil desde 2020, que traz também uma oportunidade estratégica para as empresas que almejam construir relações de confiança, além de terem diferencial competitivo no mercado. A LGPD, que busca garantir os direitos dos titulares dos dados, necessita de uma abordagem interdisciplinar por parte das organizações, com as áreas de TI, jurídico e segurança da informação trabalhando conectadas e integradas.
Para que isso aconteça, o primeiro grande passo é a conscientização interna. É essencial que os colaboradores, clientes, fornecedores e distribuidores entendam a importância de se proteger os dados pessoais, que são os verdadeiros ativos empresariais. A criação de comitês executivos de integridade, assim como a utilização de cartilhas informativas com linguagem simples e treinamentos regulares são alguns dos exemplos que podem ajudar a educar as partes envolvidas.
Depois de tudo estruturado, é preciso fazer um levantamento minucioso dos processos internos, que tenham abrangência de toda a cadeia e ciclo de dados, da coleta até a eliminação – elementos indispensáveis para o cumprimento da lei. Além disso, a transparência no tratamento de dados pessoais deve ser um pilar essencial, e as empresas que se comunicam de forma clara como os dados serão utilizados se posicionam melhor no mercado.
Além disso, disponibilizar uma área de LGPD nos sites institucionais com informações acessíveis e as políticas da empresa de forma clara é um requisito básico, principalmente em setores tão sensíveis, porque a coleta de dados é constante e envolve informações de saúde e preferências pessoais. Um outro ponto importante é a urgência de ferramentas de gerenciamento e controle eficiente, assim como capacitação de parceiros comerciais, fornecedores e distribuidores.
Em outra ponta, as pequenas e médias empresas enfrentam desafios ainda maiores, pela percepção de que adequar-se à LGPD representa apenas custos. Porém, é preciso entender que esse processo vai além de uma obrigação prevista em lei: é um investimento que fortalece a reputação e traz uma vantagem competitiva.Hoje há soluções de startups que realizam o trabalho do DPO (do inglês, Data Protection Officer) fazendo adequações a preços acessíveis que ajudam nessa jornada.
Portanto, as empresas devem adotar uma visão estratégica e cidadã, entendendo que proteger dados pessoais é um direito fundamental. Tanto para as grandes empresas quanto para as pequenas, o caminho é pensar de forma coerente, priorizando ações que proporcionem tranquilidade aos clientes e gerem valor a longo prazo.
A meu ver, a adequação à LGPD não se trata de uma barreira, mas sim uma oportunidade para fortalecer negócios e relações de confiança. Buscar o olhar para dentro, ajustar processos e engajar toda a cadeia produtiva são os passos necessários para transformar o desafio em uma vantagem competitiva sustentável ao longo dos anos. Em um mercado cada vez mais exigente, a proteção de dados é um caminho sem volta. Afinal, quanto vale a imagem e a credibilidade da sua empresa no mercado? Pense nisso.
Ricardo Maravalhas, fundador e CEO da DPOnet.