Já pensou na dificuldade enfrentada por estudantes da área de saúde em tempos de pandemia? Para proporcionar um entendimento diferenciado dos seres vivos, de maneira a revelar as diversas estruturas microscópicas, o Centro Universitário de Brasília (CEUB) transformou limitações e desafios impostos pelo isolamento social em superação. No auge dos casos de Covid-19, os gestores, professores e técnicos do Laboratório de Ciências (Labocien) da instituição implementaram uma solução inovadora com um sistema disponível na internet – a “Microscopia Virtual” –, capaz de suprir e proporcionar qualidade online no ensino e aprendizagem em citologia, histologia, patologia e diagnóstico em análises laboratoriais.
Para implementar a solução, a equipe de especialistas – constituída pelo Núcleo Pedagógico, pela Gerência do laboratório, com a cooperação do setor de Tecnologia e Informação, dos professores e do apoio da direção superior do Centro Universitário – realizou uma força tarefa para investigar soluções tecnológicas que pudessem atender as demandas dos cursos. Essa área comumente realiza aulas práticas presenciais e que, no período em questão, estavam restritas a aulas teóricas com mediação tecnológica.
Para oferecer ferramentas de baixo custo financeiro com grande benefício e qualidade educacional, o corpo docente e técnicos do Labocien viabilizaram a implementação de instrumentos tecnológicos relativos à área de saúde, já consolidados no mercado de trabalho da medicina diagnóstica, agora para o ambiente acadêmico, como no caso da microscopia virtual.
“A partir dessa ideia, fizemos o planejamento e a implementação desta prática aplicada ao domínio educacional, utilizando de aplicativo disponível na internet e digitalizando o acervo da instituição, com peças de mais de 30 anos”, conta a professora Magda Verçosa, Coordenadora do Labocien.
A iniciativa teve o aporte de R$ 30 mil, investimento que gerou uma drástica diminuição de custo com manutenção de microscópios, que gira em torno de R$ 40 mil por semestre, além da aquisição de novos equipamentos e lâminas, uma vez que o acervo digital agora é vitalício para uso de toda comunidade do CEUB para o ensino, a pesquisa e a extensão. Ao todo, 300 lâminas cito-histo-patológicas foram digitalizadas até o momento, com projeção de 600 até o final de 2022.
Atendendo às premissas de integrar diversos cursos e entender a competência interdisciplinar de um Laboratório Universitário de Ciências, o acervo digital de microscopia pode ser ampliado e atualizado continuamente. O especialista Rafael Jesus do Núcleo Pedagógico do Labocien esclarece que “a ferramenta tem capacidade de ampliação e qualidade de imagem muito superior à análise feita por um microscópio óptico convencional, com um zoom digital de 1000x”. Dessa forma, é possível que o usuário identifique áreas de relevância em uma lâmina inteira, por meio de um acesso offline ou online.
Desde a sua implementação, o “laboratório virtual” atende todos os cursos da saúde do CEUB: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Medicina Veterinária e Nutrição, que possuem, em seu Projeto Pedagógico, disciplinas ou módulos de bases biológicas, como citologia, histologia e patologia.
“A utilização de lâminas cito-histo-patológicas é parte fundamental da formação básica do profissional da saúde. Contudo, a gestão deste micro acervo é complexo, uma vez que apresenta perda de lâminas, muitas delas únicas, ao serem quebradas no processo de aprendizagem do manuseio dos microscópios ópticos. Nesse sentido, observamos ganhos administrativos e técnicos, validados pelos diversos usuários, professores e alunos, envolvidos com esta prática.” explica o Professor Antônio Marcos, gestor do Labocien.
Após o período de retomada ao presencial, a tecnologia adotada pelo CEUB ampliou as possibilidades de aprendizagem. Com opções do microscópio físico e virtual, a comunidade acadêmica desfruta de recursos para estudos simultâneos com várias lâminas, que proporcionam o uso de técnicas avançadas de sistematização de leitura diagnóstica.
A professora Renata Uchôa, docente do curso de Medicina, ressalta que “os estudantes nem precisam estar no mesmo ambiente para o estudo, uma mesma lâmina pode ser vista por vários alunos em locais diversos. E eles conseguem desenhar roteiros de estudo fazendo medições e anotações em áreas específicas e em escala microscópica.”
Magda considera o projeto de microscopia como parte de um laboratório que possui uma gestão integrada e dialoga sobre as questões e tendências tecnológicas, no sentido de ampliar o aprendizado e formar profissionais completos. “Refletimos também sobre a possibilidade de que este instrumento seja utilizado nas práticas de Simulação Realística, cooperando assim com a aquisição das habilidades profissionais. Um dos grandes desafios das aulas teórico-práticas é a integração da aprendizagem com o mundo do trabalho.”, conclui.