Há um enorme distanciamento entre o setor público de saúde e os empreendedores de negócios de impacto. Na prática, obstáculos como a dificuldade da contratação, morosidade nos processos, distanciamento das reais necessidades públicas e a demanda por garantir a validação do produto e serviço criam barreiras entre os gestores públicos e as soluções mais inovadoras do país.
Para criar um diálogo propositivo e uma agenda positiva, trazendo os incentivos mais assertivos para a criação de um novo modelo de colaboração, a Artemisia e a Umane anunciam o lançamento da Plataforma de Inovação Aberta em Atenção Primária à Saúde.
A iniciativa, inédita no Brasil, faz parte da coalizão estabelecida entre as organizações; a parceria envolve a produção de uma Tese de Impacto Social em Atenção Primária à Saúde – análise setorial que aprofunda o entendimento sobre as dores e oportunidades do tema – e a seleção de empresas para um processo de implementação de projetos-piloto em municípios brasileiros. O programa tem apoio do BID e do Instituto Arapyaú.
A escolha pelo tema de Atenção Primária à Saúde (APS) para a coalizão é bastante pragmática: ela é o acesso da população aos cuidados de saúde, sendo responsável por atender de 80% a 90% das necessidades de atendimento médico de um indivíduo ao longo da vida, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS-Brasil). Em síntese, isso ocorre por possuir uma oferta abrangente de serviços que vão da promoção básica de saúde e prevenção ao monitoramento de doenças crônicas e cuidados paliativos. Por conhecer a população ao redor das unidades, tornou-se o nível que apresenta maior rapidez para responder às mudanças econômicas, tecnológicas e demográficas que podem impactar no bem-estar das pessoas, sendo eficaz tanto ao lidar com causas e riscos à saúde, como responder a desafios emergentes que podem ameaçar o futuro da população.
A primeira etapa da iniciativa, que prevê a seleção dos negócios, está alinhada à estratégia de apoiar soluções que tenham potencial de ampliar o acesso, complementar e/ou qualificar a oferta pública de assistência médica. Diante da pandemia, houve uma maior clareza sobre a necessidade de inovar e acelerar as transformações na saúde pública do Brasil. A coalizão firmada entre as organizações, que são referência nos respectivos setores de atuação, parte do profundo conhecimento das necessidades e dores dos atores envolvidos – gestores públicos, empreendedores de impacto social e população brasileira – e vai em direção à potencialização dos ativos necessários para avançarmos em direção à melhoria da qualidade da saúde pública. Para participar, estão credenciados empreendedores de saúde de todo o país, com real intencionalidade em atuar com o setor público e soluções ou tecnologias próprias prontas a ser testadas no mercado ou em estágio de tração.
Os 10 negócios selecionados na primeira etapa vão receber suporte para formatar um plano de trabalho para um projeto-piloto, contando com mentorias de especialistas e R$ 5 mil para custear despesas (como entrevistas de profundidade) a fim de refinar e adequar as soluções. Os três destaques do programa receberão até R$ 100 mil cada para implementar os projetos-piloto em municípios pré-determinados pela iniciativa, além de contarem com apoio individualizado e business development para o fortalecimento dos negócios e suporte para validações de campo.
Eixos de atuação
Promoção da saúde e Prevenção de Doenças
A prevenção é um tema-chave dentro da Atenção Primária e, por essa razão, a iniciativa busca soluções que possam promover conteúdos educativos e informativos sobre saúde; incentivar ações de tratamento e prevenção de doenças comuns (obesidade, tabagismo e outras DCNT); além de tecnologias que possam apoiar a adoção de um estilo de vida saudável.
Diagnóstico Precoce
Diagnosticar precocemente uma doença é um desafio do sistema público de APS e pode definir o rumo de um tratamento. Nesse cenário, a busca recai por tecnologias que auxiliem no diagnóstico dos pacientes, de maneira mais rápida, barata e efetiva; soluções que possam sensibilizar para o autoexame dos cidadãos – não excluindo a necessidade de acompanhamento profissional; e ferramentas que permitam a realização de avaliação preliminar via telediagnóstico.
Suporte à saúde
Os pacientes enfrentam diversos desafios na realização do protocolo de tratamento, seja pela dificuldade do acompanhamento ou pelo não entendimento dos procedimentos, além de outros motivos. Por isso, a iniciativa busca tecnologias que permitam o acompanhamento e monitoramento do paciente a distância por meios digitais; além de tecnologias que estimulem a realização apropriada do tratamento.
Gestão da Rotina de Trabalho
As equipes de Atenção Primária são enxutas e usualmente são responsáveis por milhares de vidas. Nesse eixo, a busca foca em soluções que facilitem a rotina desses profissionais, auxiliando na gestão das consultas, no aumento da produtividade e melhoria na gestão de conhecimento, além de fornecer ao gestor, apoio na liderança das equipes, espaços e projetos. Procuramos também soluções que possam apoiar os profissionais de saúde em todos os âmbitos, incluindo cuidados com a saúde mental.
Gestão de Dados e Geração de Informação para Tomada de Decisão
A tomada de decisão na Atenção Primária envolve variáveis diversas e impacta diretamente na gestão de todos os processos. Nesse contexto, a busca é por tecnologias que auxiliem nas predições epidemiológicas; apoiem na realização de mapeamentos diversos; além de conferir a rastreabilidade da jornada/satisfação dos pacientes e promover a otimização da gestão financeira.
Linhas de Treinamentos dos Profissionais
O segmento da saúde é dinâmico e requer uma preocupação constante com a capacitação e formação dos profissionais. A inciativa busca ferramentas inovadoras de treinamento, que possam entregar conteúdos de maneira rápida e eficiente, além de tecnologias que apoiem novos profissionais, permitindo a troca de conhecimento e o aprimoramento da execução dos protocolos.
A fronteira da inovação
Segundo Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia, o setor de saúde sempre foi prioritário para organização, justamente por ser estruturante e por dialogar diretamente com a melhoria da qualidade de vida da população mais vulnerável. “Sempre enxergamos o enorme potencial que negócios inovadores têm de qualificar a oferta dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde. Entretanto, há um abismo entre esses empreendedores, as soluções e o setor público. Em uma perspectiva que ultrapassa uma iniciativa de aceleração, criamos uma coalizão que representa a fronteira de inovação para a temática”, afirma Maure.
“A nossa motivação é criar novos arranjos para que as soluções conquistem escala e cheguem à população em situação de vulnerabilidade social e econômica; impactem positivamente os territórios com soluções de ponta. A plataforma de inovação aberta reunirá o ambiente necessário para o desenvolvimento de soluções totalmente adequadas às demandas, partindo dos desafios existentes na ponta. Isso porque existe uma forte tendência de alavancar a inovação no setor público utilizando do potencial do ecossistema empreendedor e dos mecanismos de compras públicas”, finaliza.
Para Thais Junqueira, CEO da Umane, a Atenção Primária à Saúde é um eixo estratégico e um dos cernes do SUS. “Os modelos de saúde pública universais bem-sucedidos a tem como sua principal fortaleza. Por acontecer no âmbito da comunidade, do entorno e dos fatores que podem ser prevenidos, pode ser simplificada e aprimorada, entre outros caminhos, por meio de soluções que otimizem os fluxos, as linhas de cuidado e a atuação dos profissionais de saúde localmente”. A executiva acrescenta que a coalizão busca contribuir para que municípios brasileiros possam, gradualmente, ter mais acesso e conhecimento de boas práticas e novas soluções que possam ser testadas e aplicadas nesse contexto.
As inscrições estão abertas até 9 de novembro e podem ser feitas pelo site: http://impactosocial.artemisia.org.br/inovacao-aberta-saude