Além do grande desafio da imunização contra a Covid-19, já iniciada em mais de 50 países, existe a necessidade estratégica em termos de saúde pública e logística de manter o controle sobre quem já foi vacinado, com qual tipo de produto, administração da primeira e da segunda dose. Tal procedimento é proporcionalmente complexo em relação aos índices demográficos do Brasil, com seus mais de 210 milhões de habitantes.
Um dos meios digitais para o êxito nesse controle é a identidade autossoberana, composta por informação das redes e relações que cada indivíduo constrói ao longo da vida, na interação com órgãos públicos, outras pessoas, escolas, trabalho, bancos, serviços e sistemas. Simplificando, ela abriga mais do que o número do CPF ou RG, podendo armazenar a formação acadêmica, profissão e, até mesmo, a informação vacinal de cada indivíduo
“No que se refere à privacidade e veracidade das informações, a identidade autossoberana é uma das opções mais seguras, pois ela é uma plataforma descentralizada e dá ao usuário o controle das suas credenciais. Este sistema permite que o titular escolha quais informações quer compartilhar no acesso a um site ou um local, como um guichê de embarque, por exemplo”, explica Bruno Ribeiro, gerente de Inovação da Certisign, empresa especialista em identidade e segurança digital.
Segundo Ribeiro, trata-se de uma possibilidade de fácil adesão por parte dos brasileiros, pois é uma tecnologia fácil de usar, a qual é necessário apenas que o titular da identidade tenha um smartphone. “Para ilustrar: uma companhia aérea precisa ter a certeza de que as pessoas que embarcarão em um voo estarão todas imunizadas contra o Covid-19. Então, ela adota a plataforma de identidade soberana em seu sistema. O usuário, titular da identidade, no dia do voo, comparece ao guichê de embarque e scaneia com seu smartphone um QR Code no sistema da companhia aérea, por exemplo, que confirmará, ou não, se sua vacinação está em dia. Para tal, ele deverá autorizar quais credenciais irá apresentar ao sistema (no caso, as vacinas que tomou). Quaisquer outras credenciais existentes em sua carteira virtual não são acessíveis pelo sistema da companhia aérea”.
Titular no controle
Um dos benefícios da identidade soberana é permitir que os dados pertençam aos próprios indivíduos, e não a terceiros. De acordo com Ribeiro, isso também minimiza os riscos de vazamento de dados e violação de privacidade dos clientes das empresas, pois quanto mais dados elas retêm, maior é o risco que correm.
Blockchain e emissão da identidade
Uma das formas de se implementar a rede descentralizada de identidade autossoberana é por meio de um blockchain. Funcionaria da seguinte forma:
- O titular utiliza uma carteira virtual em seu smartphone para criar a identidade, que pode ser emitida por meio de um blockchain público ou privado.
- Daí, para obter a credencial de vacinação, por exemplo, o usuário acessaria o órgão competente e se autenticaria nele por meio de uma senha, validação biométrica, entre outras opções. Ao identificá-lo, a instituição emite uma credencial de vacinação para a sua identidade autossoberana, registrando a operação no blockchain. A credencial é então armazenada na carteira do usuário.
- Chegando ao embarque no aeroporto, ele apresenta a credencial de vacinação ao sistema da companhia aérea, que faz a verificação no blockchain.
“Por meio das credenciais verificadas, emitidas e registradas por universidades, órgãos públicos, hospitais, etc, no blockchain o titular vai formando sua identidade autossoberana. E, quando ele precisa se identificar em algum local, seja ele físico ou virtual, tem a liberdade de expor somente o dado pertinente àquela situação. É importante dizer que este processo de verificação, emissão e registro no blockchain é transparente ao titular da identidade. Para ele, em resumo, a ação para ter a identidade autossoberana seria apenas requisitá-la, instalar a carteira virtual em seu smartphone, obter as credenciais desejadas e ir utilizando-as no decorrer de sua vida “.