Nos últimos anos, tem ganhado força uma abordagem de saúde que vai além do tratamento de doenças. Trata-se da saúde integral, um conceito que abrange a prevenção, a promoção de bem-estar e o acesso facilitado a medicamentos e ao tratamento adequado, colocando o indivíduo no centro do cuidado. Em vez de agir apenas quando o problema já se instalou, a saúde integral aposta em iniciativas que promovem uma vida mais saudável e equilibrada de forma contínua.
A prevenção é o primeiro e mais importante pilar dessa estratégia. Já se sabe que programas que incentivam a prática regular de atividades físicas, alimentação equilibrada e cuidados com a saúde física e mental são ferramentas cada vez mais valiosas e necessárias. E com o suporte das tecnologias que avançam a passos largos no setor de saúde, tornou-se possível oferecer orientação personalizada, acompanhamento remoto e conteúdos educativos por meio de plataformas digitais e aplicativos, ampliando o alcance e a aderência dessas iniciativas.
Um dado do INCA (Instituto Nacional de Câncer) ilustra o impacto das doenças evitáveis: o Brasil gasta R$ 153,5 bilhões por ano com os danos provocados pelo tabagismo. Esse custo inclui tratamento médico e perdas econômicas por morte prematura, incapacidades e cuidados informais. Desse total, R$ 67,2 bilhões são gastos diretamente com o tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, como câncer, doenças cardíacas, respiratórias e AVC. Os R$ 86,3 bilhões restantes são custos indiretos, como perda de produtividade e afastamentos do trabalho.
Esse tipo de dado reforça a importância de políticas públicas e privadas — incluindo iniciativas corporativas — voltadas à promoção de hábitos saudáveis, não apenas como ferramenta de economia, mas como um caminho para longevidade com qualidade de vida. Um sistema mais sustentável começa antes da doença.
O segundo eixo da saúde integral está na promoção ativa do bem-estar. Isso significa ir além dos exames periódicos ou consultas esporádicas. É fundamental criar um ecossistema que envolva corpo e mente, incentivando hábitos saudáveis, promovendo o equilíbrio emocional e oferecendo suporte contínuo à saúde física e mental. Empresas e instituições que investem nesse modelo colhem benefícios concretos, como maior engajamento, retenção de talentos e redução do absenteísmo — um cenário em que todos ganham.
O terceiro aspecto da saúde integral é, talvez, o mais crítico no Brasil: o acesso ao tratamento, especialmente medicamentoso. Mesmo com os avanços da medicina, milhões de brasileiros ainda enfrentam barreiras para manter a continuidade do uso de medicamentos — seja por razões financeiras ou pela falta de acompanhamento adequado. Modelos inovadores que combinam benefícios corporativos com facilidades tecnológicas estão tornando esse acesso mais prático, seguro e barato, contribuindo para uma gestão mais eficiente de doenças, principalmente as crônicas. Compras online, subsídios diretos via empresas e programas de fidelidade têm ampliado o acesso a medicamentos essenciais, mas são insuficientes.
É inaceitável que, em pleno 2025, o Brasil ainda esteja entre os poucos países do mundo onde a maior parte da população paga o tratamento medicamentoso do próprio bolso. Isso compromete diretamente a adesão, a eficácia terapêutica e, em muitos casos, os desfechos clínicos. Sem um pagador institucional que compartilhe esse custo — seja via Estado, empresa ou modelo híbrido — o direito à saúde plena segue incompleto. É fundamental repensar o financiamento do cuidado para que a saúde deixe de ser um privilégio e se torne, de fato, um direito universal, contínuo e acessível.
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Integrar prevenção, bem-estar e acesso ao tratamento é mais do que uma tendência — é uma necessidade urgente. A expectativa de vida do brasileiro, felizmente, voltou a subir após a pandemia, passando de 71,1 anos em 2000 para 76,4 em 2023, segundo o IBGE. Isso nos impõe um dever: garantir que esses anos a mais sejam vividos com saúde, autonomia e dignidade.
A transformação digital, aliada a modelos inovadores de cuidado e financiamento, mostra que é possível cuidar melhor das pessoas e, ao mesmo tempo, construir um sistema mais sustentável — social e economicamente.
Investir em saúde integral é, portanto, uma escolha inteligente, humana e estratégica. É entender que cuidar das pessoas é o mais valioso dos investimentos — e o mais duradouro também. Ao apostar numa visão de longo prazo, baseada em prevenção contínua, bem-estar integral e acesso real ao tratamento, avançamos rumo a um modelo de acesso a saúde mais eficiente, resiliente e justo.
Eduardo Mangione, CEO da epharma.
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