O hospital do futuro passa, inevitavelmente, pelas pessoas sendo cada vez mais proprietárias dos seus dados. A medicina terá grande presença dentro de casa e, cada vez mais, os centros hospitalares serão referência apenas para casos de emergência e doenças. Cada cidadão poderá interagir com profissionais da saúde de uma forma mais sistêmica do que a que temos hoje, em busca de bem estar e prevenção. Nessa jornada cultural, a tecnologia evidenciará o paciente — e o médico — no centro de tudo. Estamos falando de uma transformação gradual, que envolve segurança cibernética e extrema confiança.
Assim como as plataformas de streaming mudaram a dinâmica do mercado na música e na indústria cinematográfica, a inovação vai modificar a realidade dos serviços de saúde no Brasil e no mundo. Mas os hospitais não acabarão, pelo contrário. O hospital do futuro que defendemos evolui junto com a telemedicina, tornando-se um hub de cuidado. Nessa perspectiva, o médico conseguirá avaliar, do Sudeste, um caso crítico recém ocorrido no Norte. O paciente, ainda em casa, poderá ser atendido antes mesmo da crise, por estar inserido em um modelo de inteligência artificial que lhe dá acesso à prevenção e ao diagnóstico precoce.
Por isso é tão importante reforçar a bandeira de que o sistema de saúde ideal precisa caminhar na direção de um acolhimento mais ágil e acessível, especialmente na rede pública. E acreditamos que isso é possível. Aliás, há pouco tempo falava-se em 5G como algo folclórico. Hoje, os avanços estão aí. Enquanto um médico faz uma cirurgia, outro está no console. Seres humanos e inovação atuam interligados, em perfeita harmonia. E mais do que a tecnologia em si, importa o timing em que ela é implementada, e o quanto a sociedade está preparada para essa mudança.
A velocidade com que os dados circulam indica uma nova revolução ainda nesta década e precisamos trilhar essa jornada cultural, com todo o aprendizado adquirido no período da pandemia. Em congressos e debates sobre o futuro da saúde no Brasil, temos visto uma convergência de ideias, quando se trata da relação entre paciente e médico. É unânime o pensamento de que toda e qualquer transformação, seja ela científica ou tecnológica, terá como objetivo democratizar o atendimento, proporcionar mais qualidade de vida, com retornos positivos para toda a sociedade. A transparência desse processo é quem vai ditar o ritmo e a adesão das pessoas a essa nova forma de cuidar.
Não podemos, porém, perder o contato com a realidade do nosso país, que apresenta uma série de desafios e diferenças regionais. Em alguns estados, há uma maior disponibilidade de especialistas, enquanto em outros, não. Há regiões com um melhor acesso à internet e cidades em que o serviço é caro e frágil. Também existem localidades tão remotas, que as pessoas precisam ser transferidas de balsa ou até mesmo de avião, em casos de alta complexidade. Pensar no amanhã, portanto, não é uma tarefa simples e linear. Quem atua na área da Saúde, especialmente em cargos de gestão, sabe que planejar o futuro passa por fazer escolhas, hoje.
É neste aspecto que os investimentos em inovação e tecnologia se tornam cada vez mais estratégicos. A telemedicina e a telerradiologia têm demonstrado que é possível cuidar melhor das pessoas, com sustentabilidade financeira e valorização do capital humano. É o que acontece quando exames de imagem podem ser discutidos por vários profissionais competentes e habilitados, onde quer que estejam. O diagnóstico preciso e os dados em nuvem, com segurança, permitem que o caso seja acompanhado sob o olhar de diversas especialidades.
O certo é que, no futuro, o hospital não vai acabar. O médico continuará sendo essencial. E o paciente será o elo em um ecossistema cada vez mais robusto e complexo, com mais bem-estar ao seu alcance. Modernizar a estrutura de saúde é pauta prioritária para governos e iniciativa privada. Só assim vamos preparar o país para novas oportunidades. Nesse cenário, cabe priorizar a educação e a formação dos brasileiros. Afinal, quem opera esse movimento são as pessoas, é o nosso capital humano. Quem compreender que vivemos em uma era de atualização constante e colaborativa conseguirá enxergar novos horizontes.
*Jihan Zoghbi ,CEO da startup Dr. TIS.