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IA e a inovação mais próxima do paciente: o que vi no SXSW

por Leandro Rubio Faria
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Estar em Austin para o SXSW é um misto de animação e surpresas. Isso porque, a cada dia, parece que surge algo ainda mais inspirador que no dia anterior. E o melhor: isso se concretiza. Além da inovação, o evento é um poço de alento para empreendedores do mundo todo recarregarem suas baterias, terem um termômetro de como o mundo está, recuperar o fôlego e traçar novas rotas. Para quem empreende na área da saúde, é sempre um prato cheio.

Além disso, defendo que o fenômeno SXSW se explica por dois motivos principais. O primeiro é a profundidade e o nível das palestras, não somente pelo tempo dos painéis, mas pela densidade dos conteúdos e o nível das discussões. O segundo diz respeito ao alto nível de qualificação das pessoas que estão por lá, em grande parte executivos brasileiros de alta performance e de grandes empresas, que estão ali muito abertos para ouvir e interagir, o que favorece muito as conexões, a troca e o networking.

De fato, estamos em um momento muito oportuno em que a inovação, a tecnologia, os wearables e a própria inteligência artificial prometem levar toda a área para um novo patamar. É claro que, sozinha, a tecnologia não resolve: no Brasil, há uma série de questões que precisam ser endereçadas para que a inovação cumpra sua função – é o caso da tão falada interoperabilidade, por exemplo. É como um livro na estante que não vale nada, a não ser que seja lido e seu conhecimento colocado em prática. Para que a inovação na saúde não seja um livro bonito esquecido na estante, precisamos favorecer conexões para que os sistemas consigam trabalhar juntos e que as diferentes organizações, que atuam na  jornada do usuário, cooperem para tal.

É claro que, no SXSW, muito se falou sobre o emprego da inteligência artificial na saúde. Um assunto bastante polêmico por aqui, mas que, por lá, foi discutido sem tantos preconceitos e de forma mais aberta e propositiva. Com IA, a expectativa é que os profissionais da saúde abandonem trabalhos administrativos rotineiros e ganhem mais tempo para focar no paciente. Na prática, isso deve significar mais tempo no diagnóstico e tratamento do paciente, mais condições dele aderir à prescrição  e, consequentemente, mais saúde. Para o profissional, também pode significar menos burnout. Além disso, uma questão urgente é como os alunos da área poderiam ser treinados, desde a faculdade, para lidar com a IA em sua prática profissional. Precisamos lembrar que o profissional de amanhã é o aluno de hoje.

Mas o que esse cenário pode exigir do profissional?

A capacidade de aprendizado e adaptação deve ser uma das soft skills mais importantes nesse novo mundo que começa a se desenhar diante de nós. Temos percebido a relativização da formação, já que a Graduação não é mais fundamental nem, tampouco, suficiente no processo de contratação de talentos. Há, hoje, uma enorme gama de habilidades necessárias para compor e complementar um background profissional. Analisar um candidato pela graduação é uma prática confortável e que nos garante certa segurança. Mas ela é limitada. Requalificação, atualização e aprimoramento têm ganhado uma relevância gigantesca. E, na saúde, também não poderia ser diferente.

Neste sentido, um dos painéis do SXSW trouxe luz para a importância das habilidades de um generalista. Hoje, o mercado não tem bons líderes generalistas, mas há muitos especialistas. Entende-se por generalista aquele profissional que consegue navegar bem em diversas áreas e, por isso, pode conversar com pessoas dos diferentes segmentos e entendê-los. É claro que ele não consegue executar tudo nos mínimos detalhes, mas é capaz de, por exemplo, bem circular desde o marketing, vendas, financeiro, RH, cultura, até o customer success. E este perfil está em falta exatamente porque estamos muito preocupados com a especialização.

Fora disso, é claro que a inteligência artificial nos trará novas possibilidades e até condições para que sejamos mais criativos e efetivos na nossa função. Da mesma forma, a IA também deve alterar os processos dos sistemas educacionais, ampliando as possibilidades de personalização frente às necessidades. Ou seja, o momento exigirá que este profissional da área da saúde reconheça e confie no papel da IA em sua jornada, mas, mais do que isso: que ele saiba se reciclar e manter uma postura constante de aprendiz.

Em um primeiro olhar, parece algo fácil de ser cultivado. Mas, em uma sociedade onde muitos se consideram conhecedores em profundidade de diversos assuntos, esta postura de eterno aprendiz poderá colocá-lo em uma posição de destaque e o diferenciar. Afinal, como bem disse Epicteto, “é impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe”.

Pense nisso.

Dr. Leandro Rubio Faria, médico cardiologista e empreendedor na área da saúde. Atualmente, atua como CEO Global da healthtech Starbem.

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