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Evento destaca importância da interoperabilidade para os serviços de saúde

por Redação
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“Desafios da interoperabilidade para melhorar serviços de saúde” foi o tema a Live promovida pela TI Inside e Saúde Digital News, que reuniu profissionais de experiência e relevância para discutir a importância da interoperabilidade para melhorar os serviços de saúde, quais os avanços das iniciativas na área pública e as barreiras para adoção no setor privado, desafios que são fundamentais para a transformação digital do setor.

O primeiro painelista foi Eduardo Almeida, CEO da Indra e da Minsait no Brasil, uma empresa pertencente ao Grupo Indra, na área de consultoria de transformação digital e tecnologia da informação. Segundo ele, hoje mais que nunca a saúde está em foco, principalmente em função da pandemia que acelerou os processos de transformação digital e elevou o olhar a questões importantes como a experiência do paciente, a urgência, a expectativa, a criticidade, a gravidade e se envolvem no atendimento. “Dessa forma idealizamos um e- book, o “Livro Branco”, que resume dois anos de estudos e pesquisas com mais de 90 especialistas que foca como tema a interoperabilidade da saúde e como este tema tem sido desenvolvido na América Latina e no Brasil.”

Conforme  destaca Almeida, esse estudo da Minsait, se detém no fato do Sistema de Saúde ser complexo seja sob qualquer ótica: do médico ao gestor do hospital, do paciente ao próprio setor de saúde e como universalizar e garantir que a tecnologia ajude a todos os novos recursos como a telemedicina, por exemplo em um país continental como o Brasil, e como garantir o uso de wearables pelos pacientes para monitorá-los, assim como também utilizar a Inteligência Artificial neste contexto, a fim de trazer a inovação em benefício de um maior número de pessoas.

Joana Miranda, responsável pela área de Administração Pública e Saúde na Minsait Portugal, contou um pouco sobre a experiência da companhia na prática.  Para a executiva, a interoperabilidade é a chave de um atendimento de sucesso, onde os pacientes devem ser conhecidos em sua integralidade. “Para que isso aconteça o paciente e/ou seus cuidadores devem ter conhecimento de seus dados, o médico precisa ter acesso a essa história e ver o paciente em 360 graus, o paciente pode e deve classificar o seu atendimento para uma melhoria integral de todo o sistema, esses dados todos melhoram a gestão de saúde e todos os dados alimentam as políticas nacionais nesta área”, explicou.

Para se obter dados globais e realmente dimensionar as enfermidades para determinar políticas e ações a serem tomadas no espectro da Saúde, as informações em tempo real são fulcrais para tomada de decisões assertivas como vem ocorrendo agora na pandemia do Covid”, disse, “a interoperabilidade oferece uma visão muito ampla, seja ela transacional, técnica (por meio de software), semântica e sintática.”, reiterou a executiva portuguesa da Minsait.

Segundo Miranda, ao mesmo tempo , o Estudo realizado permitiu que se formasse um quadro muito geral, que por sua vez, possibilitou que estes dados ultrapassassem as fronteiras dos países na elaboração de políticas mundiais de saúde.  Ela cita, por exemplo, que foram utilizados como fonte a gestão de sistemas de saúde conhecidos e bem-sucedidos, como o do Reino Unido e da Austrália.

No tocante a integração de dados na América Latina, foram analisados vários países e extraídos dados de extrema relevância. “Ao analisarmos os dados de gargalos para a implantação de projetos, e aqui ressalvo que são  itens que podem que podem ser utilizados em comum entre os países latinos, há necessidade de uma coordenação de todos os dados, um sistema de cooperação internacional sinérgica e também a comunicação estratégica de ações em comum”, ponderou. “Como conclusão, há necessidade dê uma agenda digital única conhecida, que terá um forte impacto no sistema de saúde, que também impacta diretamente a área de desenvolvimento econômico e social”.

“Analisamos em nosso estudo também particularidades de cada país. Por exemplo, na Argentina, Colômbia e no Chile um dos um dos desafios principais é a comunicação de dados, ou seja, um gargalo nesses países mas é preciso de identificar também que os grandes desafios da América Latina hoje estão concentrados em áreas específicas, que são as áreas demográfica, econômica e tecnológica”, apontou Joana Miranda.

“Ao vencermos cada um desses desafios, mais relevância terão os dados obtidos. Por meio de dados precisos é que nos permitiram a tomada de decisões globais, ações pontuais e o benefício de cada indivíduo”, concluiu.

Interoperabilidade na área pública

Para falar sobre interoperabilidade na área pública, a painelista Juliana Zinader, Coordenadora Geral em Inovação em Sistemas Digitais do Datasus, contou sobre o Programa Conecte Sus, que é a estratégia de Saúde Digital brasileira editada pela primeira vez em 2017 e revisada recentemente para 2021 a 2028, que trata essencialmente de governança e interoperabilidade no contexto da saúde.

Dentro desse arcabouço os Projetos estruturantes do Conecte Sus existem alguns pilares que buscam fazer interoperabilidade entre as prioridades de ações e estratégias.

“Ao falar de interoperabilidade, de plataforma, falarmos de uma governança sólida, de outra forma, não há projeto estruturante que vai levar a informatização. O RNDS – Rede Nacional de Dados em Saúde – busca trazer esses pilares estruturantes seguindo diretrizes internacionais e também a governança técnica com modelos de informação, gestão semântica e terminologias”, explicou a coordenadora do SUS.

Em 2020 uma portaria institui não só a RNDS com o programa Conecte Sus, como também a adoção de padrões de interoperabilidade para o Brasil.  O Conecte Sus, é a plataforma que irá conectar todos os atores da Saúde no Brasil, desde laboratórios, farmácias, gestores de saúde populacional, profissionais de saúde, gestão de operadoras de saúde, enfim o ecossistema de inovação no sentido de concentrar todas essas habilidades em nível nacional”, explicou.

Segundo Juliana Zinader, essa estratégia traz não somente o cidadão, o paciente, como como centro da questão, como também traz uma ação de inovação, onde todos os envolvidos conseguem fazer essa implementação. Além do Conecte Sus Cidadão, há previsão da implementação e lançamento este ano do Conecte Sus profissional destinado aos profissionais de saúde de todo o Brasil. “O foco desse programa é para o profissional de saúde para conseguir através da integralidade, da continuidade ao cuidado do cidadão poder ter um olhar mais amplo; e permitirá ao acesso de profissionais de saúde às informações clínicas relevantes de cada cidadão por meio de uma timeline cujo lançamento está previsto para julho deste ano. Ele integrará a atenção primária, o prontuário eletrônico já existente no sistema de saúde nacional e a atenção hospitalar”, informou.

O monitoramento de todo o sistema é feito por meio de relatórios e avaliações, a meta do Connect Sus é atingir 100% das UBS de todo país até agosto de 2021. “A intenção é aumentar o engajamento do uso da plataforma do Connect SUS em toda rede, a plataforma estruturada,  levará informações importantes e permitirá a continuidade ao cuidado do cidadão”, disse.

Uma atuação tecnológica essencial

Conforme explicou Luis Gustavo Kiatake, presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), a entidade fundada em 1986, hoje com mais de 1600 membros, representa o Brasil junto ao órgão internacional mais importante neste setor da tecnologia – a IMA – International Medical Informatics Association, sendo  também o maior fórum de discussão de tecnologia da informação e comunicação em saúde da América Latina.

Entre um dos grandes impactos da SBIS na sociedade está na certificação de software de saúde cujo grande destaque é seu papel importante na questão da interoperabilidade.

“O certificado surgiu de um processo que começou em 2002 e um convênio com Conselho Federal de Medicina, um processo de auditoria em que os fornecedores submetem seus sistemas para uma auditoria.  Para se ter uma ideia hoje são quase 200 requisitos de segurança e 300 requisitos de funcionalidade e nessa base de requisitos e que a gente faz uma série de exigências baseada sempre nas normas internacionais, como ISO e ABNT entre outras e faz parte também as terminologias, padrões e perfis de interoperabilidade”, contou Kiatake.

Ele contou também que foi a partir do desenvolvimento desses processos que os principais sistemas de prontuário eletrônico do Brasil são certificados e mantém sua certificação. Por meio desse programa conseguimos trazer do ponto de vista de conteúdo, de informações, do ponto de vista técnico aquelas facilidades que se precisa ter dentro de sistemas para que eles consigam se comunicar entre si, o que inclui uma categoria nova como a de telemedicina.

“Precisamos neste momento de salto tecnológico expandir a certificação para teleconsultas, interconsultas e outras modalidades, que também já tenha uma importância muito grande com a interoperabilidade”, comentou, “Essa ampliação traz uma correlação importante para gerar uma prescrição digital. Neste ponto a SBIS também trabalhou conjuntamente com as demandas da LGPD, na questão de privacidade de transparência de dados. Lembrando que um ponto a indicado na lei, é que os titulares e no nosso caso na saúde, os pacientes, tenham acesso às suas informações no sistema e que tenham a capacidade de exportar esses registros, de forma segura e idônea e que possam ser utilizados com outros provedores de serviços”, explicou o executivo.

Essas atividades que a entidade faz se inserem dentro de uma estratégia nacional, acompanhando a estratégia de saúde digital nacional e outras delineadas pela própria OMS. “Nossa atividade possibilita também que desenvolvedores de sistemas privados e instituições de saúde privadas também possam se conectar aos dados dos pacientes, seja nos sistemas públicos quanto nos privados”, explicou, “Nessas questões da interoperabilidade, nossa participação junto com Conselho Federal de Medicina e alguns conselhos regionais, em toda essa regulamentação na discussão vai permitir a interoperabilidade de uma forma mais abrangente”.

Kiatake contou do desenvolvimento em conjunto de um trabalho da associação junto ao Conselho Federal de Farmácia, na Câmara Técnica Interdisciplinar de Farmácia Digital, que resultou na viabilidade da prescrição eletrônica, no momento da pandemia e envolveu  diversos outros conselhos profissionais como o Conselho de Odontologia, que resultou na disponibilização de um portal para validação de prescrições eletrônicas, um portal de governo para validar as assinaturas digitais e com isso a geração e definição de um  padrão para prescrição eletrônica.

“Tivemos também a participação junto toda parte regulatória da LGPD, lembrando que trouxemos esse assunto já há bastante tempo, pelo conhecimento da existência de agências internacionais  de privacidade da informação em saúde. Nossa sensibilidade aos dados, a criticidade dos dados em saúde e a gestão da privacidade em saúde, possibilitou levarmos essa questão no Brasil trazendo essa importância de termos ao marco legal de privacidade, pela nossa participação dentro do comitê de padronização”, lembrou.

Jihan Zoghbi, presidente da ABCIS e CIO Ameplan Saúde falou sobre a interoperabilidade do ponto de vista dos gestores de saúde. “Do ponto de vista dos gestores de saúde, o compartilhamento de prontuários, de exames entre outras informações ainda acontecem de forma muito tímida. Na teoria, a interoperabilidade está bem formatada, mas ainda não é utilizada em grande escala no Brasil”, disse.

Segundo a executiva, essa é uma questão que tem sido discutida entre os profissionais por meio da ABCIS, a fim de que haja sua popularização. “A associação, no meu entender, deve dar o exemplo para toda a sociedade. E assim divulgar a interoperabilidade, não são apenas pelo lado da tecnologia envolvida, mas com a perspectiva das pessoas e da comunicação entre as partes, a fim de impulsionar os negócios”, complementou.

Jihan apontou também que a discussão sobre interoperabilidade deve envolver a área técnica do hospital e também a área executiva, além de todos os fornecedores do segmento. “É preciso distribuir os papéis. Quem distribui a tecnologia?  Quem é o responsável pela integração entre sistemas para gerar a interoperabilidade de dados no âmbito hospitalar? no âmbito da Saúde?”, disse. “Claro que os dados de saúde são muito mais sensíveis e os formatos técnicos habilitados para executar essa tecnologia são pouco conhecidos até mesmo entre os próprios técnicos.”

Para a presidente do ABCIS, a interoperabilidade não é somente a técnica e a comunicação entre as partes do negócio de saúde, entre as pessoas, entre pacientes e médicos, entre os profissionais e a própria instituição de saúde.

“Acredito que haja a necessidade de se fazer uma reformulação para que os fornecedores se adaptem às pessoas e a infraestrutura se adapte a essas exigências tecnológicas como da interoperabilidade. O caso mais emblemático que conheço é o Protocolo DICOM (comunicação de imagens digitais em Medicina), um conjunto de normas para tratamento, armazenamento e transmissão de imagens médicas num formato eletrônico, estruturando em um protocolo”, ressalta a executiva. “O mesmo deveria acontecer quanto a interoperabilidade.

Além da padronização, Jihan também destaca a importância da regulação da LGPD que incide diretamente nos dados de saúde, na utilização de prontuários eletrônicos ainda tímidos, no uso de plataformas de conversão entre dados e na conectividade.

“Hoje já estamos falando da Saúde 5.0 integrando todos os tipos de tecnologias. Há uma clara migração do paciente do hospital para a casa dele, com a introdução de IoT, nuvem e de sistemas que conversem entre si, esta transição será muito mais bem sucedida. O paciente sempre deverá ser o principal foco de toda atenção”.

Para Eduardo Marques, diretor do SBIS e da Cremerj/RJ, o desconhecimento dos profissionais da Saúde como médicos, enfermeiros entre outros profissionais de saúde, não ligados diretamente a área de tecnologia, quanto às questões de interoperabilidade ainda é muito  grande. “O conhecimento é limitado visto que a maioria desconhece tecnicamente o que é necessário e porque essa discussão é tão importante”, disse.

Segundo ele, a  interoperabilidade de informações, apesar de várias linguagens terem surgido nos últimos anos, precisa de  padronização. “Embora haja marcos bastante eficientes no mercado, no meu entender, sua popularização depende ainda de uma padronização que seja bem aceita pela maioria e que isso se torne realidade. Muitos nem imaginam a complexidade dos projetos do Datasus, por exemplo. Muito ainda há que se caminhar para levar ao profissional de saúde os meios necessários para que ele se utilize dos benefícios que a tecnologia traz, assinalou.

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