O mercado da cannabis medicinal no Brasil tem experimentado um crescimento bastante significativo nos últimos anos. Desde 2019, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro do primeiro medicamento à base de cannabis no Brasil, a indústria farmacêutica passou a investir cada vez mais na produção. Hoje, já são comercializados no país 25 produtos dessa natureza, autorizados pela Anvisa.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCANN), a comercialização nas farmácias avançou 304% no ano passado — foram 155,8 mil unidades entre janeiro e dezembro de 2022. Isso representou um faturamento no varejo farmacêutico de R$ 63 milhões, mesmo com as opções comerciais ainda reduzidas no último ano.
O cenário tende a se modificar ainda mais, rapidamente e de forma positiva, já que, com a crescente disseminação de informações sobre o potencial terapêutico da cannabis, sustentada por pesquisas científicas, a planta vem ganhando espaço no mercado. Além disso, o interesse das pessoas pelo tratamento cresce em ritmo acelerado, dada a enorme quantidade de pacientes que têm se beneficiado das propriedades terapêuticas da cannabis. Esse grande fluxo de informações disponíveis tem colaborado, inclusive, para uma maior aceitação da classe médica em prescrever medicamentos à base dos ativos da planta. De acordo com uma pesquisa do portal Cannabis & Saúde, a quantidade de médicos prescritores passou de 6,3 mil, em 2021, para 15,4 mil no ano passado, o que representa uma alta de 146%. Já o número de prescrições cresceu 487,8% no último ano.
Mercado em expansão
De acordo com Joaquim Castro, fundador da Clínica Gravital, primeira clínica especializada em tratamento com cannabis medicinal no Brasil, a quantidade de novos produtos aprovados para comercialização, além do grande número de eventos e congressos que fortalecem o tema da cannabis medicinal, são alguns dos fatores que evidenciam o fato desse mercado ser promissor no Brasil. “Vemos a quantidade de autorizações concedidas pela Anvisa dobrar ano a ano. Eu acredito que esse mercado pode atingir US$ 1 bilhão no Brasil em até três anos. É um crescimento arrojado, típico de setores nascentes. E, se existir uma flexibilização maior do acesso à cannabis no Brasil, esse número fatalmente será muito maior”, afirma.
Criada em 2019 no Rio de Janeiro, a Gravital, segundo Castro, experimenta um aumento importante na procura por consultas: nos últimos seis meses — outubro 2022 a março 2023 —, houve um incremento de 96%. O negócio deu tão certo que a rede, com seis unidades no país, está lançando seu modelo de franquias. A expectativa é de que já neste ano sejam inauguradas as primeiras três ou quatro franquias.
Impacto positivo nos pacientes
Com eficácia observada e difundida especialmente a partir de relatos de médicos, pacientes e seus familiares, os benefícios dos tratamentos com a cannabis medicinal vêm se tornando cada vez mais conhecidos da população brasileira, assim como o leque de doenças que podem ser tratadas com a planta, promovendo mais qualidade de vida com a diminuição de sintomas, por exemplo. Segundo a médica da Clínica Gravital Amanda Medeiros, a abertura cada vez maior de mercado para o tratamento com a cannabis é uma evolução importante para diversos tipos de doenças.
“Os componentes da cannabis, chamados de canabinoides, possuem poderoso potencial medicinal, principalmente no que diz respeito à sua efetiva capacidade analgésica e estimulante de apetite. Em virtude dessas duas propriedades, tende a ser especificamente benéfico para o tratamento de pessoas com câncer e dores crônicas”, explica Amanda. Ainda segundo a médica, a cannabis é também indicada para casos de esclerose múltipla, inflamações, pessoas com autismo e diversas outras condições. “A cannabis modula a percepção de dor, ajuda a regular os neurotransmissores, como serotonina e dopamina, e melhora a parte imunológica”, completa.
Hoje já é comprovada a eficácia da cannabis para tratamento também de casos de epilepsia, transtornos do sono, ansiedade, depressão, enxaqueca, Alzheimer, Parkinson, entre outros.
Esse conjunto de informações mostra que a cannabis medicinal é um mercado promissor, que permite um caminho assertivo, com diversas possibilidades, e não somente no cenário econômico, mas também como alternativa eficaz para milhares de pessoas que ganham mais perspectiva e qualidade de vida com a terapia canábica. Com a evolução da regulamentação, o crescente interesse dos pacientes e o potencial de produção nacional, espera-se que esse mercado continue a expandir e a contribuir para o avanço dos tratamentos.
