A pandemia da Covid-19 tirou do papel a telemedicina, algo que vinha sendo discutido no meio da saúde e por players de tecnologia há muitos anos. Ainda que colocada em prática abruptamente, a telemedicina se mostrou não apenas eficiente como abriu portas para diversos novos modelos e aplicações — além de um caminho para tornar a saúde mais acessível e universal.
Em debate promovido no 5×5 TEC Summit, nessa terça-feira 8/12, André Cunha, diretor de vendas de aplicativos da Oracle Setor Público; Carlos Araújo Santos, diretor de novos negócios na Claro; Felipe Cezar Cabral, coordenador médico de saúde digital no Hospital Moinhos de Vento; José Luciano Monteiro, diretor-corporativo de telemedicina do Sistema Hapvida, e Roberto T. Kihara, gerente-geral Comercial da Furukawa Electric, apontaram diferentes caminhos e usos para telemedicina, assim como abordaram os desafios que a modalidade deve enfrentar.
A telemedicina pode ser aliada desde ao monitoramento de pessoas com doenças crônicas e um mecanismo eficiente para políticas de saúde atendendo a uma população que está envelhecendo. “A doença crônica é a responsável por consumir a maior parte dos recursos. Um gerenciamento proativo e acompanhando pode reduzir o custo e aí a telemedicina tem papel fundamental”, pontuou André Cunha, da Oracle. No dia a dia, a adoção de telemedicina reduz à ida das pessoas a hospitais e prontos-socorros. “É um formato eficiente e que tem ganho para a sociedade em produtividade”, disse Carlos Araújo Santos, da Claro.
Do lado dos desafios, Felipe Cezar Cabral, coordenador médico de saúde digital no Hospital Moinhos de Vento, apontou a mudança de cultura como o mais importante e a velocidade de conexão à internet. “A telemedicina não vai substituir o atendimento, mas vai ampliá-lo; e o fato de estarmos dentro da casa da pessoa, temos mais contexto e precisamos aproveitar isso”, assinalou. Para Cabral, a telemedicina tem o poder de levar medicina de qualidade para todos os cantos do Brasil. “A telemedicina coloca a TI de papel secundário para uma posição que será um meio para se realizar uma boa medicina de qualidade, disponível, eficiente e segura”, assinalou Roberto T. Kihara.
Para José Luciano Monteiro, diretor-corporativo de Telemedicina do Sistema Hapvida, a infraestrutura deve estar na lista de prioridades até para que o acesso à telemedicina não seja mais um fator de desigualdade. Com a experiência em larga escala de telemedicina durante a pandemia, alguns desafios vieram à tona — e não apenas os relacionados à infraestrutura, conectividade e plataformas. Cabral, do Moinhos de Vento, assinalou que agora deve-se buscar ter aumento de qualidade do serviço, do exame a um maior número de prognósticos. A entrada em massa de wearables desde que com conexão a plataformas acessíveis e integradas pode elevar a escala da telemedicina. “Muitos softwares ainda não se conectam, são proprietários”, apontou Cabral.
Usando a própria experiência, José Luciano Monteiro contou que a Hapvida faz uso de telemedicina há oito anos, tendo começado pela ambulatorial. Hoje conta com 24 unidades conectadas. “Conseguimos reduzir a mortalidade em 25% nos últimos 12 meses, porque em muitos casos dificilmente se encontra um especialista”, afirmou, explicando que com as unidades conectadas ampliam-se as chances de conectar médico e paciente. Monteiro também compartilhou que a telemedicina mudou a percepção de como o paciente encara o atendimento digital.
LGPD
Com a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados, estar em conformidade com a legislação passou a ser um quesito fundamental. Enquanto André Cunha, da Oracle, ressaltou a importância de se contar com banco de dados adequado e seguro, Carlos Santos, da Claro, disse que a LGPD é um desafio para todas as indústrias e em telemedicina um desafio ainda maior, devido à relevância da informação. “Exige um rigoroso sistema de proteção dos dados, saber onde serão guardados os dados, ter modelos de segurança de ponta a ponta”, enumerou.
“Temos uma equipe dedicada só para LGPD dentro da empresa, que faz o monitoramento das ações e identifica pontos de vulnerabilidade”, disse Luciano Monteiro, da Hapvida, acrescentando que outra constante preocupação é com relação à fraude. “Existe sistema de reconhecimento facial tanto para o presencial como telemedicina e tem acesso à consulta de telemedicina quem tem o cadastro facial. Também fazemos auditoria e o acompanhamento”, explicou.
5G
A iminência de 5G também deve impulsionar a telemedicina justamente por entregar maiores velocidade de conexão banda larga móvel e com latência reduzida. Além disso, quando combinada com internet das coisas, 5G deve promover um salto na qualidade do atendimento remoto. “5G vai viabilizar muito IoT, tendo muitos dispositivos monitorando pacientes”, assinalou Cunha, da Oracle, acrescentando que machine learning também deve propiciar um avanço uma vez que fortalece e melhora a identificação de padrões, mesmo os mais sutis, como uma arritmia. “O grande desafio é a infraestrutura de conectividade e 5G vai permitir isso e muito mais; vai viabilizar projetos e entregar coisas que para as quais antes a camada de infraestrutura era uma barreira”, disse Cunha.
Do lado de operadora, Santos, da Claro, confirmou que a chegada de 5G vai ser uma revolução que vai mudar muito o mercado de conectividade e telecom. “Estamos construindo os primeiros datacenters edge, que são pequenos e serão 13 no Brasil. Eles estarão próximo aos mercados. Também estamos com fibra ótica nas cidades, o que reduz a latência”, disse.
Para Felipe Cabral, do Hospital Moinhos de Vento, as oportunidades com 5G são muitas. “Acho que virá um boom na questão de cirurgia e tem de ter qualidade, porque não pode parar de funcionar”, apontou. Contudo, ele levantou a questão de barreiras de custos: “será uma revolução do ponto de vista da saúde, mas tem de entender quando chega, a que custo chega e quem pagar a conta, mas chegando com conta pagável, pode ser exponencial”.
Além de custos, outro ponto é o alcance e o acesso à tecnologia. Monteiro, da Hapvida, disse se preocupar com a questão relacionada às regiões de atuação. “Como fazer isso chegar a regiões que são mais difíceis? Esse é ponto que precisamos nos atentar no Brasil, porque não podemos tornar a tecnologia na saúde exclusiva, ela tem de ser inclusiva. Como chegar às zonas rurais, às zonas remotas?”, questionou. Para Kihara, da Furukawa, toda essa movimentação gera uma maior demanda por fibra ótica e investimentos são necessários para estabelecer a estrutura. Além disso, segundo ele, é preciso democratizar os dispositivos de internet das coisas voltados à saúde. Redação: Equipe 5×5 Tec Summit.