A saúde humana está diretamente ligada à saúde planetária e aos problemas crescentes causados pelas mudanças climáticas, como a poluição do ar e da água, ondas de calor e doenças infectocontagiosas. Diante desses fatores, que estão mudando o perfil do paciente ao longo do tempo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma carta aberta às universidades sobre a importância das mudanças climáticas na educação em saúde, denominada Call for strengthening climate change education for all health professionals.
O documento apresenta uma pesquisa recente, que confirma a falta de programas educacionais para futuros médicos com essa temática, em todo o mundo. Muitas vezes, esses programas são liderados por estudantes. Outra pesquisa global, com 160 profissionais de escolas de saúde, indica a falta de apoio institucional e barreiras para integrar conteúdos sobre clima e saúde nos currículos.
Três cursos brasileiros foram citados como exemplo de modelo de aprendizagem sobre o tema nesta carta. Eles fazem parte do núcleo técnico-científico de telessaúde do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS), que conta com o suporte gerencial da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS), em parceria com a Planetary Health Alliance, de Harvard, e a Organização Mundial de Médicos de Família e Comunidade (WONCA). Após o reconhecimento internacional, os cursos serão relançados na próxima sexta-feira, 15.
Para o coordenador do TelessaúdeRS-UFRGS, Roberto Umpierre, é uma grande honra ter o projeto reconhecido e recomendado por uma organização multilateral como a OMS. “É um compromisso do TeleRS fortalecer nossa área de educação. Estamos sempre inovando em busca do protagonismo no segmento, e tentando diminuir o tempo entre a produção do conhecimento e sua chegada na ponta, na assistência. Agora estamos indo ainda mais longe, com nossos cursos chegando a profissionais de saúde em todo o mundo”, ressalta.
Ele ainda destaca que, no Brasil o assunto é novo, iniciativas como a do curso podem mover à sociedade para um maior conhecimento do assunto. No entanto, a conscientização da população e dos legisladores é um desafio a ser superado para conquistar um nível menor de poluição diária, vencendo as nuances e os interesses vindos da política.
Nova edição do curso
O evento de relançamento dos cursos terá a participação do representante da Planetary Health Alliance (PHA), Carlos Faerron Guzmán, e da representante da WONCA Environment, médica de família e comunidade, Mayara Floss, uma das idealizadoras do curso. A apresentação e condução do evento ficará por conta do professor e coordenador científico do TelessaúdeRS-UFRGS, Marcelo Gonçalves.
Na nova edição do curso de saúde planetária voltado para a atenção primária à saúde haverá um novo módulo, sobre migrações, realizado pela professora e pesquisadora associada à Universidade de Ghent e à Harvard Medical School, Charlotte Scheerens. Ela explica que “o objetivo é fornecer cuidados de saúde oportunos, eficazes, apropriados e eficientes no contexto de fluxos migratórios em mudança, choques climáticos e tensões aos quais nossos sistemas de saúde precisarão se preparar e se adaptar”.
Todos os cursos são gratuitos e estão disponíveis na plataforma de ensino à distância Moodle TelessaúdeRS. As inscrições foram aberta na segunda-feira, 11, e as aulas podem ser realizadas até o final de 2022, no ritmo do aluno. Qualquer pessoa pode se inscrever em qualquer um ou em todos os cursos. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail ead@telessauders.ufrgs.br.
Edições anteriores
Mais de 6 mil pessoas já se inscreveram nos cursos. As versões internacionais contabilizaram a participação de pessoas de mais de 69 países, de todos os continentes, com exceção da Antártica. Na última edição, todos os cursos tiveram mais de 90% de satisfação dos participantes. O Curso em parceria com a Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA) foi especialmente importante para os profissionais de saúde da atenção primária de todo o mundo.
A médica de família Paula Henry, de Trinidad e Tobago, conta que sua participação a ajudou a melhorar as habilidades clínicas e a pensar fora da caixa. “O curso foi extremamente relevante para a nossa prática. O ensino sobre distúrbios relacionados ao calor, por exemplo, foi muito útil, porque temos muitos trabalhadores ambientais, e o curso nos orientou a prestar mais atenção a condições como a insolação”, avalia.