terça-feira, junho 24, 2025
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Inteligência Artificial e desinformação cognitiva: o alerta por trás de uma notícia falsa sobre o ChatGPT

por Dr. Marcon Censoni de Ávila e Lima
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Nas últimas semanas, viralizou nas redes sociais uma suposta notícia afirmando que o MIT (Massachusetts Institute of Technology) teria realizado um estudo revelando “atrofia cerebral” entre usuários do ChatGPT.

O conteúdo traz imagens chamativas, gráficos cerebrais coloridos, estatísticas dramáticas e frases como: “83,3% dos usuários não lembram o que escreveram minutos antes” ou “a conectividade neural despenca ao usar IA”.

O problema? Essa notícia é falsa.

Como médico e pesquisador atuante na interseção entre ciência, saúde e tecnologia, vejo com preocupação a circulação de conteúdos virais que utilizam a autoridade de instituições como o MIT para transmitir desinformação.

O impacto desse tipo de conteúdo vai além da curiosidade digital — ele compromete a relação entre sociedade e tecnologia, gerando medo, dependência emocional de fontes não verificadas e polarizações desnecessárias.

A verdade por trás dos fatos

Até o momento, não há qualquer estudo publicado pelo MIT ou em revistas científicas de prestígio que comprove que o uso do ChatGPT ou outras ferramentas de linguagem causem dano neurológico, perda de memória imediata ou “atrofia cognitiva”.

As imagens apresentadas nesse conteúdo viral não são tiradas de publicações revisadas por pares, não citam autores, metodologia, amostra, nem DOI (Digital Object Identifier) — critérios mínimos para validação científica. São apenas composições visuais, criadas com linguagem técnica superficial, mas sem embasamento.

IA, memória e esforço cognitivo: o que a ciência realmente mostra?

Estudos sérios — de instituições como Harvard, Stanford e o próprio MIT — estão, sim, investigando o impacto do uso de IA na cognição humana. Mas os achados são mais complexos e menos sensacionalistas:

  • O uso passivo de IA (delegar tarefas sem refletir) pode reduzir o esforço cognitivo imediato, como qualquer tecnologia que automatiza um processo.
  • Isso, no entanto, não implica perda de capacidade intelectual — apenas reforça a necessidade de uso consciente e ativo.
  • Por outro lado, usuários que primeiro pensam, estruturam ideias e depois usam IA como ferramenta de apoio tendem a obter os melhores resultados em produtividade, criatividade e aprendizado.

Em outras palavras, a inteligência artificial não rouba sua inteligência.

Ela amplifica aquilo que você já construiu — ou fragiliza, se usada como muleta.

O verdadeiro risco: desinformação com aparência de ciência

O maior perigo nesse tipo de conteúdo viral não está na IA, mas na desinformação travestida de autoridade científica.

Quando imagens, números e logotipos de instituições são manipulados para gerar medo, o efeito colateral é a paralisia do pensamento crítico e a desvalorização do conhecimento validado.

A propagação de fake news pseudocientíficas sobre tecnologia e saúde pode gerar histeria coletiva, atrasar inovações importantes, sabotar políticas públicas e comprometer o avanço de gerações inteiras no uso ético e estratégico da IA.

O que devemos fazer?

  1. Desconfie de conteúdos virais com apelo emocional exagerado, mesmo que venham com “dados científicos”.
  2. Busque fontes oficiais e revisadas por pares antes de formar opinião.
  3. Eduque-se para usar a IA como ferramenta complementar, e não como substituto do raciocínio.
  4. Exerça sua inteligência real, antes de criticar a artificial.

A inteligência artificial não substitui a mente humana — ela exige ainda mais do nosso discernimento, ética e maturidade cognitiva.

E como em toda revolução tecnológica, o desafio não é a máquina. O desafio é o que fazemos com ela.

Dr. Marcon Censoni de Ávila e Lima, Cirurgião do Aparelho Digestivo e Oncológico; MBA Executivo em Saúde – Hospital Israelita Albert Einstein; especialista em Inovação e Saúde Digital – Harvard Medical School.

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