A telemedicina provavelmente se tornará parte cotidiana do sistema de telessaúde, para realização de consulta, diagnósticos, segunda opinião, tratamentos etc. Mas a adoção dessa tecnologia requer habilidades, procedimentos específicos, integração com plataformas, sistemas de gerenciamento. O interesse comercial em telemedicina também cresceu, com startups e big techs fornecendo serviços inovadores e modelos de negócios disruptivos de alto crescimento, como saúde comportamental e mental.
Paula Gobi Scudeller, diretora Administrativa Saúde Digital HCFMUSP, que participou do painel sobre “o futuro da telemedicina”, no Fórum de Saúde Digital, contou como uma instituição como o Hospital das Clínicas, reformulou suas políticas de atendimento.
“Ao longo dos últimos 18 meses, até agora, no contexto da pandemia vivemos mudanças profundas e nos desafiamos a como vamos dar continuidade daqui para frente. Somente para apresentar alguns números foram mais 526 milhões de casos de Covid, mais de 6 milhões de mortes e mais de 520 milhões de recuperados. Diante desse quadro o Ministério da Saúde permitiu, por meio de uma portaria, a realização da telemedicina como forma de atendimento, sua manutenção foi estendida em junho deste ano até que haja a sua regulamentação por meio de um Projeto de Lei”, evidenciou a executiva do HC.
“A pandemia nos levou a desenvolver estratégias para continuar os atendimentos nos 8 institutos que compõem o complexo do HC. O impacto da mudança abrupta trouxe um eixo para a reestruturação interna, e pensando em alguns pilares da transformação, digital começamos a viver isso na prática”, explicou.
Segundo Paula Scudeler, os 8 institutos que trabalham em especialidades diferentes precisaram uniformizar processos, a fim de que a instituição coordenasse estas estratégias digitais, garantindo que a mudança de mindset para depois da pandemia, continuasse. “A interação já ocorria de forma não estruturada e permitiu a construção de uma visão para o HC, onde a inovação e saúde digital em todos os níveis de atenção ao paciente ocorresse com excelência na assistência, ensino e pesquisa, visando melhorar o acesso e a equidade”, reiterou.
“Ganhamos em escala com a telemedicina. O que ocorria dentro do HC, foi levado para locais distantes, definindo processos e interação, além de possibilitar um mapeamento nos 8 institutos e tudo que pudesse advir disso como melhores práticas para o atendimento remoto”, disse, “Trabalhamos em 3 pilares melhorando a experiência dos pacientes já atendidos pelo HC e pudemos dar escala para outros pacientes, com inovações”.
Como resultado Paula apresentou número impactantes sobre o processo como a capacitação de 17 mil profissionais a distância, mais 300 mil teleconsultas até o mês de maio, 13 mil tele interconsultas e 15 artigos científicos publicados.
Para a executiva a teleconsultoria, core do serviço dos Institutos, levou a Transformação Digital no que há de expertise dentro do HC como pareceres e protocolos, além disso, como resultado houve a padronização dos processos e melhoria nas teleconsultas realizadas, bem como uma integração nos prontuários eletrônicos e o uso de Inteligência Artificial para interagir com os pacientes fosse na predição de casos tanto quanto em alertas para pacientes.
Para Claudio Barbosa, Strategic Solution Manager Latin America da Genesys, usar a quantidade de dados que foram gerados durante o período da pandemia, especialmente pela telemedicina é um caminho grande que os fornecedores de tecnologia em saúde devem se atentar. “Vimos que o engajamento em planos de saúde, hospitais e pacientes é importante e embora seja uma quantidade de dados expressiva ainda é relativa pois precisamos de mais dados para ver como este engajamento ( paciente X serviço de saúde) pode ser implementado. Com a regulamentação, a teleconsulta vai passar a ser mais frequente e isso, vai gerar mais demandas como triagens em vídeo, teleconsultas, planos de saúde vendidos por vídeo e também mais problemas”, alerta o especialista.
“Para isso, precisamos unificar procedimentos e informações, isso já está sendo feito em outras áreas do mercado e é preciso que se faça na saúde também”, disse o executivo da Genesys. Como contou, a empresa realizou uma grande pesquisa com usuários e médicos sobre as maiores preocupações em relação a telemedicina, e entre os grandes fatores apontados como preocupantes, além da interoperabilidade de dados, gestão de dados, segurança das informações do paciente, aliados ao engajamento e capacitação da força de trabalho, estão a acessibilidade e personificação.
“A experiência do paciente não pode ser quebrada pelo prontuário e todos os dados desde o início de um caso, por exemplo. A ideia de experiência bem-sucedida valoriza o hospital e o plano de saúde pela experiência que ela dá, pelo quanto conhece seu paciente e pela forma de personalização que é feita. Orquestrar todas estas informações e dados possibilitam que a experiência seja personalizada com sucesso”, reforçou.
Conforme disse, a personalização é a palavra-chave que define a Transformação Digital na saúde . “Entender esta orquestração de experiências, em todas as áreas, em saúde e ter métricas fundamentadas no paciente, por meio de plataformas para uso pela Linha de Frente (médicos, atendentes, SAC, bot ) são informações que permitem dar essa personalização, medir a eficiência do atendimento em tempo real e obter resultados menos tempo. “A orquestração de dados melhora o relacionamento com o paciente, melhora a percepção e o valor da marca e com isso, é possível prever os próximos passos e aprender com isso e melhorar continuamente, fazer os engajamentos possíveis e ser acessível, bem como implementar os serviços”, disse, ” Ao tornar a empatia real com orquestração de dados é possível pedir o próximo passo e agir para a melhoria contínua”, concluiu.
Para Caio Soares, presidente da Saúde Digital Brasil – entidade que reúne as empresas de telemedicina – a adoção é crescente , e cada vez que temos uma onda, a experiência é positiva, levando as pessoas a retornarem. “Os prestadores de serviço de saúde estão buscando embasar este serviço com tecnologia, isso é um fato”, sentenciou o executivo.
“A telemedicina dá acesso ao sistema de saúde, qualquer que ele seja, ou até mesmo o primeiro acesso a um serviço de atendimento. Por trazer o acesso, à atenção primária digital, é um benefício que a telemedicina traz e trará, mas a forma como o sistema de saúde atua, precisa ser repensado, da mesma forma que hoje pensamos individualmente como gerenciamos a nossa saúde”, conceitua.
Para Caio Soares, o uso da telemedicina poderá prover uma melhoria do desfecho clínico, economia e aumento da eficiência para o sistema. “Hoje nos vemos impactados por turbilhões como os impactos da Covid no pós-pandemia e até mesmo fatores externos como a Guerra e a próxima eleição. Neste aspecto, a questão da saúde mental tem um forte impacto na vida das pessoas e a telemedicina pode ser um canal para apoio, diagnóstico e tratamento importante. São 7 milhões de pacientes com estresse pós-traumático, que podem se beneficiar com a telemedicina como importante ferramenta”, argumentou.
Ele ainda fez um alerta importante: “Não podemos transportar para a telemedicina as culpas e mazelas do atendimento presencial . É muito difícil engajar pacientes no apoio a pacientes crônicos, por exemplo, isso acontece no mundo presencial e vai acontecer na telemedicina também . Alguns ganhos e melhorias podem advir do uso da telemedicina, mas o principal, neste momento, é a questão da regulamentação. Se queremos desenvolver as ferramentas para ajudar a todos, um ambiente jurídico adequado para todos é fundamental para que as empresas possam fazer seus investimentos e desenvolvimentos, quanto para os pacientes em primeiros atendimentos remotos ( a longa distância que tem acesso a primeira vez a um médico), quanto a pacientes crônicos e seus familiares ou aqueles que lutam com questões de saúde mental.”, finalizou.