A empresa Russer, instalada no interior paulista, desenvolveu um novo tipo de ventilador pulmonar em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) que, junto com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), financiou o projeto. O aparelho, criado pela NASA, é o primeiro a ser homologado no mundo depois de passar por adaptações às normas brasileiras na Unidade Embrapii – Senai Cimatec.
Segundo pesquisadores que atuaram no projeto, ele é o único do segmento capaz de suspender o funcionamento durante um procedimento de reanimação de paciente, sem perder os parâmetros ajustados anteriormente. Um projeto de alto impacto, que aumenta a acessibilidade do respirador para a sociedade. O primeiro lote incluiu 300 aparelhos, cada um custando R$ 59 mil.
O equipamento, denominado VIDA, foi distribuído e utilizado em treze estados brasileiros, tanto comercializados pela Russer quanto por meio de doação de grupos de empresários.
De acordo com os pesquisadores que atuaram no projeto, seu diferencial está em ser um equipamento com boa relação performance-custo, porém robusto e confiável, ter facilidade de aquisição dos seus componentes, operar na clássica modalidade de ventilação VCV – Volume Controlado, com a vantagem de possuir forma de onda de fluxo decrescente, o que resulta em menor pico de pressão de via aérea, parâmetro delicado em pacientes com comprometimento pulmonar.
Tecnologia da NASA
O equipamento, projetado por uma equipe de engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da agência aeroespacial norte-americana, foi chamado de VITAL, da sigla em inglês de Ventilator Intervention Technology Accessible Locally. A NASA realizou chamada pública para licenciar a tecnologia e atraiu 331 empresas do planeta e 30 do Brasil. Do total, 28 foram selecionadas — nove delas dos EUA e duas no Brasil (Cimatec e Russer) — para desenvolver e fabricar o produto. A agência norte-americana liberou a patente do equipamento durante a pandemia, dispensando os royalties.
A inovação só foi possível devido aos investimentos realizados pela Embrapii e o BNDES, que disponibilizaram cerca de R$ 20 milhões em recursos não reembolsáveis para alavancar soluções inovadoras de empresas brasileiras no tratamento de pacientes com sequelas da covid-19.
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) acompanhou 750 pacientes que foram contaminados e ficaram internados no primeiro semestre de 2020. A pesquisa aponta que 60% deles ainda têm problemas relacionados à covid após um ano da cura. Eles serão analisados durante quatro anos, mas os resultados preliminares indicam que 30% ainda possuem alterações pulmonares.
Além disso, parte deles também relata sintomas cardiológicos, emocionais ou cognitivos, como perda de memória, insônia, concentração prejudicada, ansiedade e depressão. A ciência ainda investiga essas e outras decorrências, temporárias ou permanentes. E algumas das lacunas do setor da saúde podem ser preenchidas com inovações nessa área e em setores correlatos.
Parceria para inovação na saúde
“A parceria com o BNDES visa desenvolver novas tecnologias e produtos no combate à pandemia. É uma iniciativa promissora que permitirá que novas tecnologias façam a diferença no tratamento de pessoas que tiveram covid e hoje convivem com sequelas da doença. A ação destina mais recursos para o setor de saúde, alavanca recursos privados em inovação e traz uma resposta à uma demanda social urgente”, explica Igor Manhães Nazareth, diretor de Planejamento e Relações Institucionais da Embrapii.
No desenvolvimento dos projetos, a empresa atua na fase pré-competitiva da inovação. Com a parceria do BNDES, e em caráter de exceção, a Embrapii ampliou sua atuação no setor de saúde, direcionando recursos a projetos em nível de maturidade tecnológica elevada e que possuem impacto esperado em um curto espaço de tempo.
A parceria alinha-se com as diretrizes do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e com políticas internacionais de apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e ao fortalecimento da indústria da saúde no enfrentamento da pandemia. Trata-se de um esforço coletivo e convergente de recursos para se desenvolver e colocar rapidamente em produção, em escala industrial, novas soluções para atender o setor da saúde e auxiliar na retomada da economia.