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O custo real do cuidador informal não remunerado

por Rubens de Fraga Júnior
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Imagine 2 bilhões de pessoas trabalhando oito horas por dia sem nenhum pagamento. O fato é que você não precisa imaginar, porque essa é a realidade da carga global de cuidados informais não remunerados. Estimado em cerca de 9% do produto interno bruto (PIB)* global, o cuidado não remunerado contribui com benefícios substanciais para os sistemas econômico e de saúde, mas permanece amplamente não reconhecido.

O trabalho de cuidado não remunerado é definido de várias maneiras, mas para os fins de pesquisa, o cuidado informal é considerado a prestação de serviços pessoais não remunerados para atender às necessidades físicas, mentais e emocionais que permitem que uma pessoa dependente funcione em um nível aceitável de capacidade, conforto e segurança.

Como a pandemia de Covid-19 destacou, o cuidado informal não remunerado é altamente marcado pelo gênero feminino. Estima-se que as mulheres representem 80% dos cuidadores informais em todo o mundo, oque inclui cuidados físicos de uma pessoa, como higiene, medicamentos e alimentação, mas também inclui apoio emocional e importantes tomadas de decisão.

Na Austrália, cerca de uma em cada dez pessoas (ou 10% da população) são cuidadores informais — mas isso não inclui cuidados infantis. Além disso, mais de um terço desses cuidadores estão em seus primeiros anos de trabalho, com idade entre 35 e 54 anos.

Ao fornecer grande parte das necessidades de cuidados do mundo, esses cuidadores informais enfrentam dificuldades econômicas. Mas, o mais importante, fornecer esse cuidado informal também pode impactarnegativamente a saúde física e mental dos cuidadores.

A revisão publicada recentemente na eClinicalMedicine reuniu todas as evidências que analisam a ligação entre o cuidado não remunerado e a saúde mental de adultos em idade ativa em países de alta renda daOrganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Embora revisões anteriores tenham sugerido uma associação negativa entre cuidados e saúde mental, evidências longitudinais mais fortes eram necessárias para fundamentar a teoria.

Os autores descobriram que o cuidar não remunerado é prejudicial à saúde mental de adultos em idade produtiva. Nos estudos que podem ser ordenados por gênero, o cuidado foi consistentemente associadonegativamente à saúde mental das mulheres. Embora poucos estudos tenham examinado homens, esse efeito negativo também foi relatado por eles.

Todos os levantamentos usaram medidas de saúde mental validadas, autorrelatadas e baseadas em pesquisas. Essas são medidas de saúde mental bem reconhecidas para sintomas depressivos e sofrimentopsicológico que são usadas para avaliar transtornos mentais comuns.

No geral, os autores constataram que, entre os adultos em idade ativa, o cuidado informal não remunerado era prejudicial à saúde mental.  Numerosas teorias tentam explicar por que a prestação de cuidados informais pode afetar adversamente a saúde mental dos cuidadores. Isso inclui os múltiplos estressores que muitos cuidadores vivenciam, a tensão de conciliar vários papéis que podem levar à sobrecarga e o impacto da escassez de tempo no bem-estar mental dos cuidadores.

Além disso, os custos financeiros e de tempo que acompanham as demandas de cuidado podem aumentar os impactos negativos na saúde mental. Também há o fato de que muitos cuidadores priorizam a saúde da pessoa cuidada, o que pode significar que eles não praticam o autocuidado ou outros comportamentos positivos de saúde.

E, finalmente, cuidar está intrinsecamente interconectado com o relacionamento entre o cuidador e a pessoa de quem ele cuida — a saúde mental de um cuidador pode ser afetada adicionalmente pela purapreocupação e estresse de alguém que ele ama e se preocupa por estar doente —, conhecido como efeito familiar.

*Fonte: Jennifer Ervin et al, Longitudinal association between informal unpaid caregiving and mental health amongst working age adults in high-income OECD countries: A systematic review, eClinicalMedicine (2022).

*Rubens de Fraga Júnior é professor de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e médico especialista em geriatria e gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria eGerontologia (SBGG).

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