A saúde na era da transformação digital é uma realidade no Brasil. O debate já não é mais quando as mudanças tecnológicas na medicina ocorrerão, mas de que forma as empresas e os profissionais da saúde se adaptarão a elas. Embora a digitalização já estivesse nos planos de várias instituições, a pandemia dos últimos dois anos acelerou a transformação, que, ao contrário do que muitos pensam, não está restrita ao uso de tecnologias disruptivas, mas à capacidade de pensar e agir diferente, na tentativa de solucionar problemas ou de tornar os processos mais eficientes, com foco na qualidade e na experiência do cliente.
Mais do que tecnologia, a transformação digital está relacionada à mudança de mentalidade, que deve partir da liderança para ganhar mais força dentro da organização. Em seu livro “Mindset – A Nova Psicologia do Sucesso”, a psicóloga Carol Dweck explica que toda ação gera uma reação e, portanto, é preciso agir para alcançar aquilo que se deseja. O primeiro passo é justamente adotar o mindset de crescimento, que diz respeito às pessoas que acreditam que podem evoluir em diferentes cenários.
Diante das adversidades que chegaram com a pandemia, o segmento da saúde se reinventou em todas as frentes para enfrentar o desconhecido, atuar na linha de frente do combate ao coronavírus e salvar vidas, desenvolver pesquisas e testes que culminaram com o desenvolvimento das vacinas que possibilitaram reduzir o número mortes, a partir do ciclo vacinal completo. Até hoje, foram oficialmente registradas no mundo mais de 6,2 milhões de mortes por Covid-19, sendo mais de 666 mil no Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que esse número global possa ser bem maior, atingindo quase 15 milhões de óbitos em decorrência da doença no mundo.
Em meio ao caos inicial era preciso encontrar formas de seguir cuidando dos colaboradores, dos médicos e dos pacientes. Por representar a esperança de cura, o setor farmacêutico assumiu protagonismo e passou por transformações para se adaptar à nova realidade. Mesmo sendo altamente regulada e, consequentemente, mais conservadora, a indústria buscou alternativas para manter a comunicação fluida com as equipes internas e externas, especialmente na fase mais crítica da pandemia, em que o isolamento social se tornou necessário para evitar a disseminação do vírus.
Se o contato dos laboratórios farmacêuticos com os médicos era realizado pelos consultores no modelo presencial, a dinâmica mudou de maneira radical. Para garantir o bom atendimento e compartilhar conhecimento não apenas das novas pesquisas médicas e de produtos, mas também sobre a melhor utilização das ferramentas digitais, a Zambon, por exemplo, lançou um portal específico para os profissionais de saúde, com conteúdo destinado a melhorar o relacionamento deles com os pacientes no mundo digital.
O portal disponibiliza informações sobre a prática médica, incluindo conteúdo atualizado sobre medicina e o uso das ferramentas digitais para auxiliar o dia a dia da prática clínica, tais como telemedicina e prontuário eletrônico. Possui, ainda, uma área de soluções digitais, com informações sobre o uso de mídias digitais e redes sociais, além de orientações sobre como estas podem auxiliar o atendimento e a comunicação com os pacientes. Também há materiais de educação médica continuada com aulas gravadas, webinars, estudos científicos e podcasts.
Atualmente, são mais de mil profissionais cadastrados entre médicos, farmacêuticos e odontologistas. Quase um terço das visitas é de profissionais estabelecidos no estado de São Paulo. A maioria dos visitantes acessa o portal pelo computador (60,4%) e digita diretamente a URL do portal (68,8%), o que demonstra o sucesso da iniciativa e uma perspectiva do ambiente digital, capaz de contribuir para a inclusão da comunidade médica no mundo virtual.
É óbvio que ainda estamos em uma curva de aprendizado, afinal a inovação é nossa preocupação diária, não só no desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, mas também no que chamamos de inovação paralela, aquela que está presente em processos, comunicação e acesso à informação. A adoção do modelo de trabalho híbrido-digital permitiu avançar neste quesito, com a vantagem de ampliar a cobertura de clientes. Se antes não conseguíamos atender médicos do Acre pela ausência de um consultor no Estado, hoje a utilização de soluções on-line nos permite conectar vários profissionais, independentemente do local. Assim como no Acre, ampliamos nossa cobertura no interior do Rio Grande do Sul e no Tocantins, entre outros estados.
Em paralelo, o trabalho híbrido-digital tem contribuído para trazer mais flexibilidade e equilíbrio aos profissionais. O feedback que temos recebido dos colaboradores – e acompanhado de outras corporações que implementaram formatos similares – é de que a iniciativa vem propiciando mais qualidade de vida, pois permite manter o contato presencial com os colegas algumas vezes por semana e, ao mesmo tempo, estar mais próximo da família nos períodos de home office.
Com a maturidade do modelo, a relação de confiança da liderança com seus times também se solidificou. Ao combinar mudança de mindset, resiliência e vontade de fazer os processos darem certo, os profissionais foram se adaptando à nova realidade, de forma que a busca por resultados não ofusque o fator humano nas relações de trabalho. Quando as conexões se fortalecem com base em transparência e confiança, os colaboradores se sentem mais seguros para criar, trocar experiências, sugerirem mudanças e serem eles mesmos.
Com isso, as empresas contribuem para reduzir a exaustão e a preocupação excessiva que têm abalado a saúde mental de muitas pessoas. Ser mais digital não significa estar disponível o tempo inteiro, mas criar alternativas para que as atividades rotineiras aconteçam de maneira mais fluida, eficiente, ágil e colaborativa. Após dois anos de pandemia, quando as questões pessoais e profissionais se entrelaçaram, alcançar o equilíbrio é um aprendizado e também uma grande conquista.