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A crise dos planos de saúde é sistêmica

por Roberto Vianna
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Prejuízos na casa dos bilhões, reajustes muito acima da inflação, fraudes e índices de sinistralidade recordes. A conta da crise no setor da saúde está cada vez mais alta e todos os atores envolvidos parecem não ter para onde correr. Clientes pagam por serviços caros, operadoras enfrentam altos custos ao negociar com clínicas, hospitais e laboratórios, e empresas que contratam planos de saúde já não conseguem atender às necessidades de seus funcionários.

A crise, que se arrasta há tempos e atingiu seu ápice este ano, é resultado de um modelo que vem ficando mais obsoleto ano após ano. Um dos principais indicadores do setor, o índice de sinistralidade, que atingiu 89,21% no quarto trimestre de 2022, demonstra a crescente pressão de custos enfrentada pelas operadoras.

A verdade é que o sistema do país já estava doente há décadas. Além de um conflito de interesses, inerente à forma como esse sistema foi concebido, os dados – e, consequentemente, o cuidado com a saúde –, são fragmentados.

A pandemia não apenas evidenciou os gargalos, como os deixou maiores. Procedimentos, medicamentos e equipamentos médicos tiveram um aumento nos custos, ao mesmo tempo em que as pessoas passaram a utilizar mais os serviços. Sem contar as fraudes e desperdícios evitáveis, que chegam, em alguns casos, a responder por até 25% dos gastos de um plano de saúde. Reembolsos se tornaram uma das principais vias para fraudes, muitas vezes solicitados de forma superfaturada ou até mesmo sem terem sido realizados. Para se ter uma ideia, os pedidos de reembolso cresceram mais do que as despesas assistenciais.

Por outro lado, o desenvolvimento tecnológico torna os diagnósticos mais rápidos e precisos, o que permite que se possa atuar cada vez mais cedo na detecção e prevenção de doenças. Com a atuação focada na gestão do cuidado, há menos procedimentos, menos internações e intervenções e, consequentemente, mais eficiência e redução de custos em toda a cadeia.

A inteligência artificial tem trazido soluções para a medicina que antes eram impensáveis. Dispositivos eletrônicos, como relógios inteligentes, podem monitorar a saúde de uma pessoa e captar dados precisos que ajudam a antecipar o diagnóstico de doenças, identificar grupos de risco e direcionar intervenções preventivas, garantindo um cuidado mais proativo.

O alto desenvolvimento de inteligências capazes de consolidar e interpretar grande quantidade de dados, atuando como um sistema integrador de informações, direciona os pacientes a uma jornada de cuidado mais precisa e eficaz, ao mesmo tempo em que pode trazer informações fundamentais para a tomada de decisões de médicos

Essas soluções tecnológicas contribuem para o aprimoramento da qualidade dos serviços e podem ser uma resposta à crise no setor de saúde. A tecnologia não deve ser vista apenas como mais uma fonte de custos gerada por procedimentos modernos e caros – ela é a chave da solução.

A solução também depende de ajustes e evolução das normas que atualmente regem o sistema de saúde. A Lei 9.656, popularmente conhecida como Lei dos Planos de Saúde, precisa acompanhar a evolução tecnológica e da medicina. Uma atualização da legislação pode ajudar a desburocratizar os processos e garantir mais eficiência e proteção aos conveniados. Ela deve ser mais flexível, dando mais liberdade aos atores de todo o ecossistema de saúde, no que diz respeito à inovação e desenvolvimento de produtos e coberturas, adaptados às necessidades de cada um, o que flexibilizaria o custo e atrairia mais beneficiários, trazendo equilíbrio ao mercado.

Não existe atalho na saúde. A única forma de organizar o sistema de saúde brasileiro é transformar as raízes do ecossistema, alinhando interesses de planos de saúde, empresas e beneficiários. Nesse movimento, o cuidado com as pessoas deve ser sempre a prioridade.

Roberto Vianna, sócio da Axenya.

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