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Dengue pressiona os serviços de urgência hospitalar e o Lean Healthcare pode auxiliar a operação

por Roberto Chimionato
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Além dos casos de covid-19 que continuam a surgir no Brasil, a preocupação na saúde agora está voltada à alta dos casos de dengue. No fim da segunda semana de março de 2024, o país registrou mais de 1 milhão de casos da doença, 5,8 vezes mais casos do que o mesmo período de 2023 que, juntamente com 2015, foram os maiores anos da série histórica. 

O aumento de casos já pressiona os hospitais públicos e privados, que registraram crescimento expressivo nos atendimentos após o Carnaval. De acordo com levantamento do SindHosp – Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo, realizado entre 29/02 e 10/03, as internações por dengue ou Covid aumentaram em 71% nos 92 hospitais privados de São Paulo consultados.

Preocupante para a população, a epidemia de dengue, junto com Chikungunya e Zika Vírus, também pode provocar impactos financeiros de R$ 20 bi na economia brasileira, segundo estudo da Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. Desse valor, R$ 5,2 bilhões devem ser gastos com o tratamento dos pacientes.

Felizmente, existem metodologias de melhoria de processo que os hospitais podem utilizar no seu dia a dia e principalmente em períodos de alta demanda como o que estamos vivendo atualmente, para garantir um atendimento adequado ao paciente, com eficiência, sem investir em recursos desnecessários, garantindo assim a qualidade. Uma delas é a metodologia Lean Healthcare

Lean Healthcare: um caminho para aumentar a eficiência no atendimento dos hospitais

Lean Healthcare é uma metodologia criada para melhorar a eficiência, qualidade e segurança dos serviços de saúde. Lean vem do inglês e significa enxuta, e é justamente isso que a metodologia pretende realizar: deixar as operações mais eficientes, sem desperdícios e sem sobra de recursos. No caso dos hospitais, o foco é eliminar desperdícios, melhorar processos e envolver os funcionários na busca contínua pela excelência, proporcionando um atendimento de alta qualidade aos pacientes sem aumentar os custos desnecessariamente. A relação é de ganha-ganha, inclusive para os colaboradores já que processos organizados tornam os ambientes de trabalho mais satisfatórios.

Como funciona? 

O objetivo principal da metodologia é criar um fluxo de atendimento ao paciente o mais contínuo possível, sem gargalos e interrupções. Esse tipo de projeto tem início no mapeamento de todos os processos que acontecem ao longo do fluxo de atendimento ao paciente, desde entrada até a sua alta, analisando tanto os processos assistenciais – médico, enfermagem, farmácia etc., como os processos administrativos – autorizações, solicitações, faturamento, entre outros. 

O mapeamento registra desde as movimentações dos pacientes e profissionais do hospital, até as etapas e os tempos envolvidos em todos os processos do fluxo. O resultado desse trabalho é a criação de um Mapa de Fluxo de Valor (MFV) atual. Com ele, é possível identificar os desperdícios e as oportunidades de melhoria nos processos. 

Para criar um fluxo contínuo, a metodologia Lean propõe a identificação e eliminação/diminuição de sete principais categorias de desperdícios, que são:

    • Falta de qualidade: Atividade e/ou serviço que tenha de ser refeito por algum erro;
    • Espera: Qualquer tipo de espera que pare o fluxo de assistência, como atraso na disponibilização de leitos e espera pela reavaliação;
    • Estoque: Acúmulo de materiais que demandem espaço e necessidade de controle, como fichas para envio ao médico ou excesso de estoque nas farmácias;
    • Movimentação: Toda movimentação desnecessária como procuras por prontuários, receitas, pacientes, alocação de materiais com difícil acesso;
    • Transporte: Todo transporte desconectado com a demanda, como o vai e vem de pacientes entre processos, amostras, exames e equipamentos;
  • Processos desnecessários: Adicionar mais trabalho e procedimentos do que o necessário, como anamnese feita por vários profissionais de forma repetida, medicação administrada por diluição que poderia ser por via intramuscular ou via oral, por exemplo, para agilizar o atendimento com o mesmo efeito clínico; 
  • Superprodução (descartes): Produzir um trabalho ou serviço antes mesmo de ser solicitado e/ou em quantidades acima do necessário, como excesso de exames e tratamento dado com antecedência.

Identificados os desperdícios, a próxima etapa na metodologia é desenhar um MFV futuro que mostre o fluxo do paciente sem desperdícios e, a partir disso, montar um plano de trabalho com melhorias capazes de tornar esse cenário ideal em realidade.

Puxar o fluxo: Priorização de atividades quando há filas de espera nos hospitais

Infelizmente, é muito raro encontrarmos um hospital, clínica ou laboratório sem filas, principalmente durante períodos de alta sazonalidade como surtos de gripe e dengue. Nesses casos, além de eliminar/reduzir os desperdícios para deixar o fluxo do paciente o mais contínuo possível, é necessário organizar o atendimento por meio da priorização. É o que chamamos de “puxar o fluxo” dentro da metodologia Lean Healthcare

Com ferramentas como o Kanban e Gestão à vista, a metodologia propõe uma organização que ajude as equipes dos hospitais a classificar urgências e organizar a prioridade de cada atividade durante o atendimento. Dessa forma, o hospital consegue deixar instruções pré-definidas e de maneira visual para que as equipes saibam exatamente seu próximo passo, sem necessidade de gastar tempo para a tomada de decisão.

Todo o processo de criar um fluxo contínuo sem desperdícios e de desenvolver estratégias capazes de puxar o fluxo é constantemente revisto, para que se promova uma melhoria contínua dentro dos hospitais.

Case de sucesso: Melhorando a eficiência de um pronto-socorro de alta complexidade

Os resultados de uma boa implementação da metodologia Lean em hospitais são bastante positivos não só para melhorar a satisfação do paciente e colaboradores, como também reduzir os custos dos prestadores de serviços de saúde.

Um dos projetos de consultoria que atuei aplicando essa metodologia foi realizado para um grupo hospitalar do interior do estado de São Paulo, que atendia uma média de 15 mil pacientes por mês (e em épocas de dengue chegava a 25 mil) em seu principal pronto-socorro. Os principais objetivos do projeto eram diminuir o índice de reclamação, atender os pacientes dentro dos tempos da sua classificação de risco, reduzir o tempo total de atendimento para pacientes não urgentes e diminuir o índice de retorno.

Ao utilizar a metodologia Lean Healthcare e mapear o fluxo de atendimento do paciente no pronto-socorro, foi possível identificar os desperdícios e implementar diversas ações de melhoria. Entre elas, estavam a separação do fluxo do paciente não urgente entre os que precisavam ou não de medicação, a criação de um kit padrão de medicamento e exames, autorização automática para agilizar os atendimentos, sistema Kanban de priorização do laboratório, melhora no sistema de comunicação visual para paciente e acompanhantes, além da implementação de reuniões diárias (Genba Meeting) para alinhamento de pendências e agilizar a tomada decisão. 

Como exemplos de alguns resultados desse projeto, o hospital conseguiu: aumentar em 27% o número de pacientes com urgência atendidos dentro do tempo meta de 30 minutos; aumentar em 33% o índice de pacientes que realizaram triagem dentro do tempo meta de 10 minutos; e reduzir em 48% o índice de pacientes não urgentes que recebem prescrições médicas desnecessariamente no pronto-socorro.

Esse é só um exemplo do que a melhoria contínua de processos pode fazer dentro dos hospitais. A A&M Healthcare já realizou diversos projetos que somam mais de 100 unidades de saúde, entre hospitais e clínicas no Brasil e na América Latina e continuamos a atuar fortemente no segmento este ano. 

Roberto Chimionato, Gerente da área de Healthcare da A&M (Alvarez & Marsal).

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