Ainda pouco conhecidas, terapias com células do tecido odontológico já vêm sendo usadas, experimentalmente, em tratamentos de doenças como depressão, AVC e Covid-19, e são uma alternativa importante para os pais que não coletaram as células do cordão umbilical dos filhos ao nascimento
Como explica a médica e cientista Karolyn Sassi Ogliari, pós-doutora em biologia regenerativa e células-tronco, as células-tronco contidas no interior dos dentes de leite, têm um potencial terapêutico de recompor células e tecidos danificados ou perdidos em decorrência de diversas doenças. “Doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistêmico, neurológicas como a doença de Huntington e AVC, depressão, periodontites, Covid-19, são alguns dos tratamentos sendo testados com as células-tronco de origem odontológica”, detalha.
Segundo ela, quanto mais jovens as células-tronco coletadas, melhor é o seu potencial regenerativo. “A coleta da polpa do dente é mais uma oportunidade de obter um material biológico jovem que poderá servir para uma terapia celular regenerativa futura conforme os resultados dos ensaios clínicos”, afirma Karolyn.
De acordo com a especialista, que também é fundadora do Hemocord, empresa de biotecnologia voltada para armazenamento de produtos de terapia celular para a medicina regenerativa, e do primeiro banco de sangue de cordão umbilical com laboratório de criopreservação no sul do país, as células-tronco da polpa do dente são do tipo mesenquimal. Esse tipo apresenta uma grande capacidade de multiplicação e um risco reduzido de promover rejeição quando utilizadas de uma pessoa para outra.
No entanto, Karolyn destaca que a quantidade de células da polpa do dente é menor que a do tecido do cordão umbilical. “Do tecido do cordão a gente consegue extrair uma quantidade muito maior de células mesenquimais para começar uma cultura, para expandi-las. A polpa do dente possui um número um pouco menor de células”, compara. “Mas a polpa do dente de leite é uma alternativa muito importante para os pais que não puderam coletar o tecido do cordão umbilical do filho durante o nascimento”, afirma.
A obtenção da polpa do dente de leite é um processo não invasivo e que pode ser feito durante o período de troca dos dentes da criança, entre os 5 e 12 anos. De acordo com Karolyn, é importante que a coleta seja realizada antes de o dente cair. Já em adultos, existe a possibilidade da coleta ser feita nos dentes sisos, ao serem extraídos. “Coletar e armazenar esse material biológico é uma atitude preventiva de quem deseja maior segurança para a família no caso de uma possível necessidade. O papel das células-tronco, tanto as da polpa do dente, como as do tecido do cordão, do sangue do cordão ou de outros tecidos, é de ser uma fonte de material biológico armazenado, que possibilite estudo, correção de alterações e produção de terapias de forma personalizada e específica”, avalia Karolyn.