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Os riscos do ensino à distância na fisioterapia

por Anderson Coelho
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Você sabia que hoje, somente em Minas Gerais, são oferecidas quase 200 mil vagas para quem quiser cursar a graduação em fisioterapia no formato EAD? E o pior é que esse número é relativo a apenas 27 instituições de ensino. Ou seja, são aproximadamente 7.400 vagas por curso. Já no presencial, são cerca de 8.600 vagas disponibilizadas por 112 universidades. Neste caso, com uma conta mais simples, chegamos ao resultado de 76,7 vagas por instituição. O que devemos questionar ao analisar esses dados, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), é a qualidade do ensino. Você confiaria em um fisioterapeuta formado à distância para cuidar da sua família?

A formação de profissionais da saúde requer o desenvolvimento de habilidades que exigem a troca presencial de experiências e a convivência com docentes ao longo da graduação. Os prejuízos desse déficit podem ser devastadores, colocando em risco não somente as profissões, como também a vida dos pacientes. Aqui, o intuito não é ser contra o uso de tecnologias de informação, muito menos brigar com a democratização do ensino. Pensando na defesa da saúde integral para todos, não podemos deixar de discutir a mercantilização desenfreada do ensino. E é justamente isso que vem acontecendo no Brasil, inclusive em Minas Gerais, como demonstram os números citados anteriormente. Para vencer a batalha em prol do paciente e das profissões da saúde, precisamos contar com o bom senso do poder público, uma vez que a própria Constituição Federal diz que “saúde é direito de todos e dever do Estado”, e esse dever também passa pela garantia de um ensino de excelência. Para isso, contamos com o Executivo, o Legislativo e o Judiciário do país.

No fim do ano passado, o MEC publicou uma portaria proibindo a oferta de novos cursos na modalidade EAD, incluindo os da área da saúde. Porém, com quase 20 mil cadeiras disponibilizadas para quem quer cursar fisioterapia à distância, Minas Gerais vê um cenário perigoso se aproximando. Como o mercado vai absorver essa quantidade de profissionais nos próximos anos? E, mais importante do que isso, como será a qualidade do atendimento desses futuros profissionais? A corrida tecnológica em busca da longevidade e da erradicação de mazelas tem transformado a qualidade de vida da humanidade, mas o toque, o cuidado e o atendimento personalizado nunca perdem o valor. 

O ensino à distância é uma realidade que não pode ser ignorada, e disseminar conhecimento e capacitação é extremamente importante, sobretudo no Brasil, uma nação com déficit histórico em educação. Porém, isso deve acontecer com parcimônia e cautela. O EAD é importante, mas não pode ser, em hipótese alguma, a principal estratégia de formação profissional do país. É essencial respeitar as especificidades de cada área e reconhecer o valor das profissões da saúde, além de alertar a sociedade sobre a importância do tema. Precisamos discutir o assunto e cobrar uma decisão definitiva do poder público. Tudo pela defesa da vida.

Anderson Coelho, presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Minas Gerais (Crefito-4 MG).

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