O câncer continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, desafiando médicos e pacientes. Quando se fala sobre a doença os números assustam, já que de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil terá mais de 73 mil novos casos ainda em 2024.
Mas, a notícia positiva é que novas tecnologias têm trazido inovações significativas que estão transformando a forma como a doença é abordada, desde a prevenção até o diagnóstico. E mais do que isso, elas moldam um futuro mais esperançoso na luta contra a doença.
“As tecnologias nos dão a possibilidade de acelerar o processo diagnóstico e torná-lo, sempre que possível, menos invasivo. E tê-lo mais precoce resulta em maiores chances de a paciente receber o tratamento da melhor maneira possível, mais adequada e num tempo mais curto. As inovações tecnológicas ajudam também a garantir tratamentos mais precisos e personalizados e a desenvolver novas abordagens terapêuticas que são direcionadas para as doenças nas suas características mais específicas, relacionadas aos diferentes perfis genéticos que a gente conhece. Ou seja, elas ajudam a ter um diagnóstico mais rápido, tratar com maior assertividade, ter mais possibilidades de cura e trazer mais qualidade de vida”, ressalta o médico Dr. Márcio Sanches, diretor de pesquisa do Grupo UniEduK e CEO do InovaEduk.
Quais tecnologias estão revolucionando diagnósticos e tratamento?
Não é segredo que aplicativos e outros recursos digitais estão transformando a forma de diagnosticar e tratar diversas doenças. Mas, no caso do câncer de mama, há outras soluções que podem contribuir para resultados mais eficazes. De acordo com a bióloga geneticista e doutora em Ciência da Saúde, Dra. Letícia Braga, as tecnologias mais inovadoras buscam o diagnóstico precoce do câncer de mama.
“Eu destacaria três tecnologias para o diagnóstico precoce desse tipo de câncer: a mamografia digital, a tomossíntese mamária (ou mamografia 3D), e a biópsia líquida. Essas tecnologias oferecem uma precisão muito maior ao identificar lesões suspeitas, mesmo em estágios iniciais, permitindo intervenções mais rápidas e personalizadas”, salienta Letícia, que também é pesquisadora e parceira do InovaEduK e do Instituto de Pesquisas Clínicas e Translacionais de Indaiatuba (IPCTI).
Ela explica ainda que a mamografia digital já é amplamente utilizada, mas a tomossíntese vem ganhando destaque, pois fornece uma imagem tridimensional da mama, o que facilita a detecção de tumores ocultos em tecidos densos.
“Como geneticista, não poderia deixar de destacar a biópsia líquida, que analisa o DNA tumoral circulante no sangue da paciente, oferecendo uma abordagem minimamente invasiva e pode identificar alterações genéticas associadas ao câncer de mama, mesmo antes de o tumor ser visível em exames de imagem. A combinação dessas tecnologias permite não só um diagnóstico mais preciso, mas também mais rápido, reduzindo a necessidade de exames complementares e melhorando o prognóstico dos pacientes”, detalha.
Os desafios para implementação das tecnologias
Todos esses recursos inovadores, que são cada vez mais possíveis, ajudam no diagnóstico e tratamento do câncer de mama. Mas, não há como negar que ainda existem alguns obstáculos para colocar as tecnologias em prática.
O acesso a esses recursos é um deles, pois é especialmente restrito à regiões mais afastadas ou em populações socioeconomicamente desfavorecidas. Além disso, no sistema público, apesar dos esforços contínuos de melhoria, o acesso a inovações ainda é limitado, com longas filas de espera e uma oferta desigual de exames e tratamentos mais avançados. Isso cria uma disparidade significativa no tempo e na qualidade do diagnóstico, o que impacta diretamente os resultados para os pacientes.
Outro grande obstáculo é o alto valor de algumas dessas tecnologias, tanto na rede pública quanto na privada. Nem sempre os convênios cobrem todos os exames de alta complexidade e alto custo, e isso inclui os exames genéticos. O acesso pode variar dependendo do plano de saúde.
“É crucial que as políticas de saúde busquem equidade, ou seja, garantir que todos os pacientes, independentemente de estarem no SUS ou na saúde suplementar, tenham acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos de qualidade. A tecnologia deve ser um meio para reduzir desigualdades, não ampliá-las. Outra solução viável seria o desenvolvimento de parcerias público-privadas, que poderiam facilitar a distribuição dessas tecnologias e a criação de centros regionais especializados, minimizando as disparidades no tratamento. É importante lembrar que a equidade no tratamento de pacientes com câncer é uma questão de justiça social, e precisamos garantir que essas inovações cheguem a todos os pacientes, independentemente de sua localização geográfica ou condição financeira”, finaliza a Dra. Letícia Braga.