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Zoonoses e One Health: Protegendo nossos animais de estimação e nossa saúde

por Henry Berger
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Os animais de estimação são parte integrante de nossas vidas, nos trazem alegria, companhia e amor incondicional. No entanto, é importante reconhecer que nossos amigos peludos podem ser portadores de doenças que também afetam os seres humanos – as zoonoses – que é um dos pontos importantes contemplados no conceito de One Health ou Saúde Única, abordagem que reconhece a interconexão entre saúde humana, animal, vegetal e ambiental. A responsabilidade pela saúde e pelos cuidados com os pets, claro, é nossa e, por isso, informação é fundamental.

Causadas por bactérias, vírus, parasitas, fungos e outros microrganismos, as zoonoses podem ser transmitidas dos animais para os seres humanos e vice-versa, de forma direta através do contato com secreções, mordeduras ou arranhaduras, e indireta, por meio de vetores como insetos e ectoparasitas. Um exemplo comum e grave de zoonose é a raiva, uma doença viral transmitida através da mordida de um animal infectado, como cães, gatos ou morcegos.

O Papel da OneHealth na Prevenção de Zoonoses

A Saúde Única enfatiza a necessidade de cooperação entre médicos-veterinários, médicos humanos, ecologistas, biólogos e outros profissionais da saúde e do meio ambiente para abordar questões de saúde de forma holística. No contexto das zoonoses, a abordagem da One Health desempenha um papel fundamental na prevenção, detecção e controle dessas doenças. Isso envolve a vigilância de doenças em animais e humanos, a educação pública sobre práticas seguras de convivência com animais de estimação, o desenvolvimento de vacinas e de tratamentos eficazes e a gestão adequada de resíduos animais.

Algumas zoonoses a que precisamos estar atentos:

Toxoplasmose: causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, a doença é adquirida principalmente pela ingestão de água, frutas, verduras e carnes cruas ou mal passadas contaminadas. O parasita também pode estar presente nas fezes de gatos infectados e, por isso, medidas preventivas devem ser tomadas e o contato direto com as fezes, evitado. A doença pode causar sintomas leves em humanos, mas representa um risco maior para mulheres grávidas e pessoas com sistema imunológico comprometido.

Leishmaniose: causada por protozoários do gênero Leishmania e transmitida pela picada do mosquito-palha. Pode afetar tanto cães quanto humanos, causando sintomas como feridas na pele, febre e danos em órgãos internos.

Toxocaríase: causada pela ingestão acidental de ovos do parasita Toxocara canis na água, alimento ou solo contaminados, ou por meio do consumo de vísceras e carnes mal cozidas contendo larvas infecciosas, levando à sintomatologia visceral, ocular e até mesmo neurológica.

Ancilostomíase: também conhecida como “amarelão”, é uma infecção intestinal causada por vermes parasitas do gênero Ancylostoma, o nematódeo mais frequente em cães no Brasil. Pode ser transmitida aos humanos através do contato com fezes contaminadas.

Bordetelose: a bactéria Bordetella bronchiseptica, agente causadora da chamada tosse dos canis, é uma infecção bacteriana altamente contagiosa que afeta o sistema respiratório dos cães. A forma de transmissão em seres humanos pode acontecer pelo contato direto da boca e/ou focinho durante a socialização e também por contato com secreções contaminadas que são expelidas durante a tosse e o espirro, causando sintomas similares aos da gripe. Essa zoonose tem um baixo risco de contaminação, geralmente afetando imunossuprimidos e idosos com comorbidades.

Leptospirose: a leptospirose é uma doença causada pela bactéria do gênero Leptospira spp, que pode ser transmitida aos seres humanos através da urina de animais infectados. O controle de pulgas e carrapatos também é importante na prevenção dessa doença, pois esses parasitas podem servir como hospedeiros intermediários.

Esporotricose: micose causada por fungos do gênero Sporothrix, presente no solo, vegetais em decomposição, espinhos e madeira, podendo ser transmitida diretamente pelo contato com o meio contaminado ou por arranhaduras, mordeduras e contato com lesões.

Além das zoonoses

Expandindo um pouco o tema saúde humana e animal, vale abrir um parênteses  para um alerta sobre nossos hábitos no dia a dia que não necessariamente envolvem zoonoses, mas que afetam a saúde dos pets também, como o tabagismo, por exemplo. A exposição à fumaça de tabaco compromete muito a saúde dos animais e nem todas as pessoas os veem como potenciais fumantes passivos, não adotando os mesmos cuidados que tomam com adultos, crianças e idosos.

Tratamentos estéticos ou cuidados pessoais também podem se tornar riscos para nossos amigos como temos visto recentemente. O minoxidil (utilizado comumente para crescimento de pelos e cabelos) é altamente tóxico para cães e gatos, podendo até mesmo ser fatal. A intoxicação acontece por meio de ingestão acidental de comprimidos ou por lambeduras das regiões em que o produto foi aplicado. Da mesma forma, repelentes e outros cremes ou medicamentos de uso tópico, também podem ser tóxicos para o organismo dos nossos amigos que, numa demonstração de carinho ou por se sentirem atraídos pelo odor do produto, lambem a pele do tutor.

Protegendo Nossos Animais de Estimação e Nossa Saúde

Existem várias medidas que podemos tomar para proteger nossos animais de estimação e, consequentemente, nós mesmos contra zoonoses:

Vacinação: manter nossos animais de estimação atualizados com as vacinas recomendadas pode ajudar a prevenir doenças como a raiva, a leptospirose e a bordetelose.

Higiene: lavar as mãos após manusear animais, especialmente após limpar fezes ou urina, pode reduzir o risco de infecções; o mesmo para a higiene de instalações e locais onde vivem os animais.

Controle de parasitas: tratar nossos animais de estimação regularmente contra pulgas, carrapatos, vermes e outros parasitas ajuda a evitar a propagação de doenças. O controle integrado e periódico de pulgas e carrapatos é especialmente importante, pois esses parasitas podem transmitir uma série de zoonoses, incluindo a febre maculosa e a dipilidiose.

Cuidado com a alimentação: oferecer uma dieta balanceada e segura para nossos animais de estimação ajuda a mantê-los saudáveis e reduz o risco de infecções alimentares.

Visitas veterinárias regulares e preventivas: agendar consultas veterinárias anuais permite a detecção precoce de doenças e a administração de tratamentos adequados.

É essencial estar ciente dessas doenças e adotar medidas preventivas para proteger a nós mesmos e aos nossos companheiros peludos, afinal eles dependem de nós para receberem os devidos cuidados que vão impactar na saúde de toda a família.  Com educação, conscientização e cooperação, podemos garantir um ambiente saudável e seguro para todos.

Henry Berger, médico-veterinário formado pela Universidade de São Paulo, com MSc e PhD pela mesma instituição e MBA pela FGV.

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